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01 março 2011

Copa do mundo

A Copa do Mundo da iniciativa privada ruiu. Um estudo do TCU (Tribunal de Contas da União) mostra que sairão dos cofres públicos 98,56% dos R$ 23 bilhões orçados para as obras de 2014.

Isso menos de dois anos após o presidente do COL (Comitê Organizador Local), Ricardo Teixeira, declarar que a maioria dos gastos do próximo Mundial seria bancada com dinheiro privado.

A maior parte das verbas virá dos bancos governamentais [1](Caixa Econômica Federal e BNDES) e da Infraero [2], estatal que administra os aeroportos do país. Juntas, as três empresas públicas investirão cerca de R$ 16,5 bilhões até a abertura da Copa.

Responsável por financiar as obras de mobilidade urbana nas 12 cidades-sedes, a Caixa irá repassar R$ 6,6 bilhões para os governos estaduais e municipais.

Já o BNDES investirá R$ 4,8 bilhões --R$ 1,2 bilhão em mobilidade urbana e R$ 3,6 bilhões para as arenas.

Segundo o estudo do TCU, a Infraero gastará cerca de R$ 5,1 bilhões para a reforma e a ampliação dos aeroportos.

O órgão federal não computou na conta os bilhões que os governos vão destinar para organizar o esquema de segurança do Mundial.

No trabalho realizado pelo TCU, a iniciativa privada aparece investindo apenas R$ 336 milhões, ou 1,44% dos R$ 23 bilhões do torneio [3]. A verba não sairá de nenhuma empresa e virá dos cofres dos clubes que vão reformar ou construir estádios.

Internacional e Atlético-PR já confirmaram que vão investir nos seus estádios para o Mundial. Segundo o órgão, os paranaenses vão gastar R$ 113 milhões na Arena da Baixada. Já os gaúchos destinarão R$ 133 milhões para reformar o Beira-Rio.

Em São Paulo, o Corinthians pretende construir uma arena em Itaquera.

O clube do Parque São Jorge ainda tenta viabilizar o novo estádio. Na conta do TCU, o Corinthians investirá R$ 90 milhões. A intenção da Fifa é realizar a abertura da Copa na arena de Itaquera.

A verba privada no Mundial é menos de 10% do que o BNDES vai usar para financiar os projetos das arenas.

Em 2007, quando o país ganhou o direito de abrigar a Copa pela segunda vez, a CBF, responsável pela candidatura brasileira na Fifa, estimou que o país gastaria pouco menos de R$ 2 bilhões com estádios. A conta atual já superou os R$ 5 bilhões. [4]

A projeção de investimento dos brasileiros supera a cifra gasta pelos sul-africanos no Mundial-10. [5] A África do Sul pagou R$ 3,9 bilhões para erguer dez estádios, dois a menos do que no Brasil.

Alguns dos projetos da África do Sul são arquitetonicamente mais ousados do que os brasileiros, como o do Soccer City, em Johannesburgo, além das arenas da Cidade do Cabo e de Durban.

Folha de São Paulo - Copa de 2014 terá 98,5% de dinheiro público - Sérgio Rangel

[1] Aqui a notícia tem um problema. O fato de um banco público ajudar a financiar os investimentos não significa dizer que o dinheiro é público. Suponha, por exemplo que o Corinthians obtenha R$500 milhões de financiamento do BNDES. Isto só seria dinheiro público se o clube não pagasse o passivo. Observe que existe uma confusão entre o ativo (estádio), que será privado, com o passivo (financiamento), que é dinheiro público. Lamentável a falha do TCU.

[2] Novamente uma confusão. Os investimentos da Infraero só acontece em razão da estrutura de aeroportos no Brasil ser de capital público. E estes investimentos serão em razão do fluxo maior de turistas, beneficiando outros passageiros. Deste modo, é questionável incluir nesta conta os valores que a Infraero irá gastar.

[3] É lógico que a conta do TCU está errada. Computou o financiamento do BNDES para um estádio privado como sendo investimento público.

[4] Isto possui uma explicação técnica (originária da disciplina de custos) ou política.

[5] É necessário ter cuidado com estes valores, pois não sabemos como foram calculados (taxa de câmbio usada, inflação etc)

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