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11 agosto 2010

Concentração em Auditoria

Alta concentração - Fernando Torres (Jornal Valor Econômico) - 10.08.2010 (via Claudia Cruz)

Os três maiores contratos do setor garantiram à PricewaterhouseCoopers (PwC) 69% do total de R$ 132,1 milhões que ela faturou fazendo a auditoria de 33 companhias abertas entre as 200 maiores do país em 2009. Isso dá uma ideia de como os grandes clientes são importantes nesse mercado. O Itaú Unibanco foi o que mais gastou com auditoria dos balanços no ano passado: R$ 38,7 milhões. O Bradesco aparece em segundo, com despesa de R$ 31,4 milhões, e é seguido pela mineradora Vale, que desembolsou R$ 21,1 milhões.
Petrobras, auditada pela KPMG, e Santander, pela Deloitte, completam a lista das cinco empresas abertas que mais pagaram aos auditores no ano passado.

Os dados foram obtidos com informações divulgadas pela primeira vez pelas companhias abertas brasileiras e que constam dos Formulários de Referência enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O estudo considera a soma do que as empresas pagaram pela auditoria dos balanços e também em outros serviços.

Antes da divulgação desses dados no formulário, a única informação que havia sobre a divisão do mercado de auditoria era o ranking da CVM, que mostra as maiores do setor por número de clientes, entre as mais de 500 companhias abertas do Brasil.

Os números obtidos com base nos Formulários de Referência mostram que os bancos são destaque em termos de custo de auditoria. Além de terem centenas de bilhões de reais em ativos e milhares de agências, eles ainda demandam serviços específicos por questões regulatórias ligadas à gestão de risco. Há ainda uma certa correlação entre porte e gasto com auditoria, embora haja algumas distorções.

É importante destacar que, entre as instituições financeiras, não existe mais rodízio de auditorias a cada cinco anos [1]. Nas demais empresas abertas, sob fiscalização da CVM, a troca periódica de firmas está suspensa ao menos até o fim do processo de mudança contábil para o padrão internacional, chamado de IFRS.

Além de mostrar concentração maior entre as quatro grandes, o levantamento do Valor aponta uma configuração de mercado diferente daquela que aparece no ranking elaborado pela CVM. Enquanto a KPMG lidera o ranking oficial, com 99 clientes entre as companhias abertas, ela aparece na terceira posição na pesquisa feita pelo jornal. A maior participação de mercado entre as 200 empresas da lista do Valor está com a Deloitte, com 51 contratos. Somada com a Terco, a Ernst & Young encosta na líder, com 50 contas.[2]

Já a PwC, líder em receita, fica no quarto lugar tanto no levantamento do jornal como no da CVM em número de clientes.[3]

No ranking por receita, a Deloitte ficou em segundo por esse quesito, com R$ 89,4 milhões. A KPMG veio em terceiro lugar por esse critério, com R$ 74,6 milhões, mas deve ser superada pela soma da Ernst & Young (R$ 68,7 milhões) com a Terco (R$ 11,1 milhões), que alcança R$ 79,8 milhões.

Segundo Henrique Luz, sócio da PricewaterhouseCoopers, o mercado de capitais ainda incipiente no Brasil tira representatividade do ranking da CVM. "Nos EUA, das 500 maiores empresas, 99% são companhias abertas. No Brasil, das 500 maiores, só 40% são cotadas em bolsa", afirma.[4]

Já Charles Krieck, sócio de auditoria da KPMG, que lidera o ranking da autarquia, tem outra visão. "É claro que não é coisa mais importante do mundo, porque nem todas as empresas são abertas. Mas ele é interessante porque mostra o quanto de experiência você tem nesse mercado e qual foi o crescimento nos últimos anos", afirma.

Sobre o movimento da concorrente Ernst & Young com a Terco, os dois disseram ver a transação como uma consequência da disputa pelo mercado, especialmente do segmento de pequenas e médias empresas, que eles também garantem que estão disputando. "Seria totalmente inaceitável não olhar esse segmento no Brasil emergente", diz Luz, da PwC.

Para Krieck, da KPMG, é uma visão errada achar que as quatro grandes do setor só têm clientes de grande porte. "Mais da metade dos nossos clientes são pequenas e médias", diz o executivo.


[1] Uma argumentação contra o rodízio era o custo elevado. Com as informações não é possível afirmar que isto seria uma desvantagem. Mas existe realmente um custo de preparação inicial de auditoria, o que tornaria o custo final da auditoria muito maior do que os valores atuais.
[2] Em razão da recente aquisição da Terco pela EY
[3] Isto significa que a PWC dependeria mais de poucos clientes e seria, a rigor, mais afetada pelo rodízio.
[4] Mas com a auditoria obrigatória nas grandes empresas fechadas isto não seria um problema.

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