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25 fevereiro 2009

IFRS e educação

IFRS: um alerta aos cursos de contabilidade
Gazeta Mercantil - 19/2/2009

19 de Fevereiro de 2009 - A adoção do modelo de contabilidade conhecido como International Financial Reporting Standards (IFRS) pelas empresas brasileiras é um caminho sem volta. Elas terão de apresentar suas demonstrações financeiras segundo as novas regras em 2010, referentes aos números de 2009. Mas a implementação pode esbarrar em um entrave: a falta de profissionais qualificados para trabalhar sob as normas. O alerta foi feito ontem por Vania Borgerth, vice-presidente-executiva do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), também contadora-chefe do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em evento realizado pela Gazeta Mercantil, com o apoio da firma de auditoria KPMG, que lotou o auditório.

Contando que sua sobrinha está seguindo os passos da tia, em se debruçar sobre os números das empresas, Vania afirmou que a moça já cursou dois semestres de Ciências Contábeis em uma boa universidade no Rio de Janeiro. A aluna já passou todo um ano na faculdade e não aprendeu o que é e como usar o IFRS, nem uma sombra das noções. Quando ela for diplomada e for enfrentar o mercado de trabalho, irá encontrar as companhias em pleno uso das regras internacionais de contabilidade. "A implantação é um trabalho hercúleo, principalmente em termos de formato", disse ela. "E não temos um currículo nas faculdades para a formação de contador em IFRS."

A desventura, no entanto, não se restringe à sobrinha da contadora do BNDES. No Brasil existem mais de 400 mil contabilistas e técnicos ativos, segundo dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) de dezembro do ano passado. Mais 69 mil escritórios individuais e sociedades contábeis no mercado. É uma multidão. E boa parte terá de voltar para os bancos escolares para se afinar com as novas regras da contabilidade.

Além disso, existem mais de 1.100 cursos de Ciências Contábeis no País. Se imaginarmos uma média de 40 alunos por sala, serão mais de 40 mil contabilistas saindo do forno fresquinhos todos os anos, para enfrentar o mercado de trabalho. É importante que as universidades despertem para a urgência da implantação das regras do IFRS e comecem já a ministrar a matéria sob pena de o corpo discente sair da sala de aula com o conhecimento completamente defasado.

O professor Eliseu Martins, titular da cadeira de Contabilidade da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), que acaba de assumir uma diretoria na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), afirmou, também no evento, que estava vendo "esse filme" pela segunda vez na vida.

A primeira "exibição", conta Martins, ocorreu logo após a criação da Lei das Sociedades Anônimas, em 1976. As regras contábeis determinadas pela então revolucionária legislação foram publicadas somente em setembro de 1977, para serem aplicadas nos balanços daquele mesmo ano, apresentados à sociedade no início do ano seguinte. "Os balanços publicados eram uma calamidade", recorda o professor, que já formou gerações de contabilistas. "Muitas demonstrações tiveram de ser refeitas." Martins ressalva, porém, que não se pode esperar que tudo seja feito "certinho, sem erros", na primeira elaboração. É claro que haverá muitos erros e acertos, até que contabilistas, administradores, gestores, as empresas enfim, entronizem todos os detalhes da contabilidade internacional.

Ele lembrou que hoje o processo de educação pode ser acelerado e fortalecido, já que a rede mundial de computadores pode ser usada para disseminar os novos conhecimentos. Eu acrescentaria o papel que a mídia impressa tem feito no sentido de mostrar todos os passos que têm sido dados pelos órgãos envolvidos na elaboração e definição das regras, como o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), os órgãos federais e estaduais de representação de contabilistas, de analistas e das companhias abertas, além da própria CVM e do BNDES, que financiou a edição de um CD em português com a totalidade das regras do IFRS, já que uma edição impressa consumiria mais de 5 mil páginas.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) NELSON ROCCO*

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