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09 agosto 2006

Ética nas empresas


A moda da ética nas empresas:

Ética está em jogo nas empresas

Companhias adotam normas de boa conduta, mas nem sempre cumprem o que prometem

Andrea Vialli

As fraudes contábeis envolvendo empresas americanas como a Enron e a WorldCom trouxeram à tona discussões sobre ética e os prejuízos que as empresas têm com a corrupção. A cobrança de investidores, consumidores e ONGs também está levando as empresas a adotarem normas de boa conduta. Porém elas ainda encontram dificuldades para colocar o discurso em prática.

A falta de ética no ambiente corporativo traz prejuízos ainda difíceis de serem medidos. Um estudo de 2004 da consultoria KPMG realizado junto a mil empresas brasileiras dá algumas pistas: mostrou que 69% delas já haviam tido problemas com fraudes e corrupção. Na maior parte dos casos (83%), o prejuízo foi inferior a R$ 1 milhão - mas em 49% dos episódios a empresa não conseguiu reverter as perdas.

Para Roberto Heloani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Unicamp e especialista em ética no trabalho, ainda há uma distância entre o discurso das empresas e a prática. "Para muitas empresas, a ética ainda é muito usada como um instrumento de marketing interno e para o mercado. Mas já há progressos", diz.

Um dos avanços é o esforço das empresas em difundir seu código de conduta entre os funcionários, fornecedores e consumidores. "As pessoas precisam saber como a empresa vê a ética, e não pode ser um discurso vazio", diz o professor. O estudo da KPMG aponta que 60% das fraudes envolvendo as companhias são causadas por funcionários.

RECONHECIMENTO
Nos países desenvolvidos já existe a tendência de "premiar" empresas com atitudes éticas, que aos poucos começa a chegar no Brasil. Um exemplo pode ser visto no mercado financeiro, com a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo, carteira de ações de 28 empresas apresentam boas práticas no campo da responsabilidade social. "A tendência para o futuro é que os investidores privilegiem as empresas com uma postura ética clara, pois oferecem menores riscos", diz o professor.

A pesquisadora da FGV Carmen Weingrill, uma das responsáveis pela elaboração do questionário enviado às empresas interessadas em compor o ISE, afirma que a questão da ética está amadurecendo nas empresas brasileiras. "O mercado tende a valorizar não as empresas que tenham uma conduta impecável, mas aquela que souber reconhecer suas falhas e prestar contas com clareza", diz Carmen. O questionário enviado às empresas, com mais de 100 perguntas, trazia questões referentes ao combate à corrupção, suborno e propina.

O discurso de ética nas empresas já criou até um nicho de mercado. A consultoria Prosets Brasil, por exemplo, especializou-se em elaborar estratégias para as empresas aplicarem a ética no dia a dia dos negócios. A consultoria incentiva as empresas a criarem códigos de ética de acordo com seu ramo de atuação e fornece ainda serviços para identificar eventuais funcionários corruptos.

Uma das ferramentas da consultoria é aplicada no processo de seleção de empregados e permite à empresa identificar se o candidato à vaga de emprego tem inclinações a transgredir regras. A tecnologia foi desenvolvida em Israel com base no polígrafo, o popular detector de mentiras, e já é usada em 15 países.

"Nosso trabalho é traduzir o código de ética da empresa para cada empregado, de acordo com sua função dentro da companhia", explica Adriana Tschernev, gerente de marketing da Prosets Brasil. A empresa tem 20 clientes, de diferentes portes e setores, como o banco Santander, a rede varejista Casas Bahia e a fabricante de bebidas Schincariol. A consultoria também mapeia os departamentos da empresa que necessitam de segurança mais reforçada.

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