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29 junho 2006

Cilada Emocional

Reportagem enviada por Ricardo Viana, publicada no Jornal Valor Econômico:

Cilada emocional

Por Catherine Vieira
20/06/2006

O empresário Hélio do Amaral começou a investir em ações há cerca de três anos, como forma de turbinar a renda de sua futura aposentadoria. Até maio, com a animadora seqüência de altas no mercado local, ele nunca precisou rever a estratégia. Com as turbulências iniciadas em maio, porém, o temor de colocar o futuro em risco assustou Amaral. Assim como milhares de investidores individuais, que passaram a abarrotar os chats na internet e as centrais telefônicas das corretoras, ele se viu diante da necessidade de tomar uma decisão: é hora de vender ou devo manter minhas posições?

É justamente nestes momentos, de maior pressão, quando o assunto envolve decisões estratégicas, que os especialistas do comportamento humano alertam: cuidado com as armadilhas internas.

Quando o mercado passa por momentos de virada e os investidores precisam decidir o que fazer em relação ao novo cenário, ficam mais evidentes os fatores que mostram que os aplicadores não se comportam de forma puramente racional, lembra o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em finanças comportamentais Jurandir Sell Macedo. Eles são também influenciados pelas emoções e as chamadas "ilusões cognitivas". "Quem só conhece mercado em alta pode ter essa ilusão, mas a queda também faz parte da dinâmica e quem não convive bem com isso não deve investir em ações", diz.

Um artigo dos especialistas John Hammond, Ralph Keeney e Howard Raiffa na revista Harvard Busines Review enumerou as sete ciladas psicológicas que costumam atrapalhar gestores de negócios e carteiras na hora da decisão. A primeira das chamadas "armadilhas ocultas" é a que eles chamaram de efeito-âncora, que leva o investidor a dar um peso desproporcional à primeira informação recebida sobre determinado assunto. Já a armadilha do status quo mostra a tendência a manter a carteira ou posição como está, ainda que possam haver alternativas melhores, enquanto o problema do custo irrecuperável leva o investidor a perpetuar erros cometidos no passado por evitar realizar algum prejuízo. Outro vício é aquele que faz com que as pessoas tentem sempre buscar dados que confirmem suas teses e recusar dados que as refutam.

Há ainda a questão do excesso de confiança, que leva a superestimar a exatidão das próprias projeções ou de terceiros ou, ao contrário, a armadilha da prudência exagerada, que traz demasiada cautela na hora de prever eventos incertos. Por fim, há o efeito lembrança, que é uma espécie de trauma no qual o indivíduo acaba atribuindo um peso desmedido a eventos recentes e dramáticos.

Ao contrário do que ocorreu em outros momentos de volatilidade do passado, os investidores individuais revelam uma paciência maior com o sobe-e-desce. Isso também é explicado pela fase prolongada de altas do Índice Bovespa, que chegou a valer 8.500 pontos em 2002 e este ano, antes dos solavancos, foi perto dos 42.000 pontos. "Não vou dizer que não dá medo olhar o mercado em queda, o mercado está perigoso", diz o empresário Hélio Amaral. Cliente da Corretora Ativa, ele prefere continuar acompanhando de perto antes de tomar a decisão de vender. "Mas estou mais cauteloso, não dá para entrar em qualquer lançamento de ações, por exemplo."

O diretor de varejo da corretora Ágora Senior, Marcelo Smarrito, conta que os clientes aumentaram muito o volume de consultas e freqüência aos chats. "Mas em geral eles têm mantido as posições", conta o executivo.

Se as decisões tomadas hoje são acertadas é difícil saber, diz Macedo, da UFSC. Mas, pelo menos num ponto, o especialista acredita que a atitude atual dos investidores pode estar sendo mais positiva do que em outros momentos. "Não ser movido pelo pânico e não tentar vencer o mercado a todo momento já é um bom caminho, demonstra um maturidade maior do investidor brasileiro", diz. "O que os estudos de finanças comportamentais mostram é que bater o mercado, ou seja, os índices básicos, com consistência, é praticamente impossível", acrescenta.

O especialista americano Meir Statman, que esteve no Brasil no mês passado, lembrou que justamente dessa conclusão nasceram os chamados fundos de ações passivos, ou fundos de índice, que só reproduzem as carteiras teóricas dos índices.

De acordo com o especialista catarinense, muitos investidores tendem a acreditar que podem conseguir sempre superar o mercado, a começar por ele próprio, que também é consultor. " Eu tenho um perfil muito especulador e um dos clientes que eu assessoro é superconservador, quase não gira a carteira e gosta de bons dividendos ", conta Macedo. "Sempre achei que eu ganhava muito mais que ele e, um dia, coloquei na ponta do lápis e descobri que, num período de oito anos, minha carteira perdia em 3% para a dele".

Para se livrar das ciladas, os especialistas recomendam comprar devagar, vender devagar, não ficar suscetível a momentos de pânico e manter-se fiel aos objetivos. "Quem quer juntar dinheiro para comprar um apartamento por exemplo, quando a quantia já for suficiente, deve vender as ações e comprar o imóvel", diz Macedo. "Não se pode ceder à tentação de acreditar que a bolsa só sobe e ficar sempre tentando ganhar mais, assim como não se deve resistir a realizar um ganho menor porque surgiu uma queda", conclui.

Valor Econômico

24 junho 2006

A arte de escrever difícil

Um belo texto publicado hoje (24/06) no Estado de S Paulo sobre a arte de escrever difícil:

O hábito de escrever e falar difícil

De onde vem o gosto pela incomunicabilidade? Vem de longe, mas hoje pelo menos os jornais primam pela expressão enxuta

Aluízio Falcão

A exposição sobre o nosso idioma e sua merecida repercussão trouxe para as salas de aulas e páginas de jornais um debate enriquecedor sobre o tema. Houve, na abertura do evento, reparos a imprecisões históricas em alguns de seus painéis, mas feitas num tom não construtivo que denunciava, antes do zelo, uma certa inveja dos formuladores. A exposição não sofreu com isso e despertou grande interesse da população.

Passado o impacto sobre a beleza da lusofonia, é preciso retomar a batalha por sua clareza. Até acho que todos os dicionários deviam ter na capa aquele aviso da propaganda de cerveja: use com moderação. A Língua Portuguesa precisa de um regime para emagrecer. Deve urgentemente perder celulites que agridem a decantada formosura do seu corpo. Perdão leitora, mas não há outro termo, somente celulite corresponde ao tenebroso vocábulo aleivosia, por exemplo, tão presente na oratória política e em alguns escritos que leio de vez em quando. Na tribuna, Suas Excelências querem afirmar que não admitem injúrias e acabam por dizer que não admitem aleivosias. Há outros recursos, talvez mais feios. Dizem "condutas deste jaez", quando poderiam dizer simplesmente "condutas desse tipo". Jaez, ínterim, encômio, vitupério, entrementes... a lista daria um dicionário. Um dicionário de sinônimos, provando que a cada palavra rebarbativa corresponde outra mais bonita e mais simples, de igual significado, que todo mundo entende. O problema é que falar difícil ainda confere status perante certas platéias. Ainda ontem, no restaurante, escutei um vizinho de mesa explicando qualquer coisa: "Esforço hercúleo..." A julgar pelo franzido nas testas de sua mulher e dos filhos, ninguém entendeu o hercúleo.

De onde vem esse gosto pela incomunicabilidade? Vem de longe, dos primeiros bacharéis. Não satisfeitos com os excessos em português, decoravam um latinório para rechear de sabedoria suas petições e recursos. Um amigo advogado, Núncio Nastari, divertiu-me com páginas e páginas dessas invocações. Pesquei algumas: est modus in rebus (cada caso é um caso); ad argumentandum tantum (apenas para argumentar); data venia (com o devido respeito); res nulius (coisa de ninguém); dura lex, sed lex (a lei é dura, mas é lei); pacta sunt servanda (os contratos devem ser respeitados); ad impossibilia nemo tenetur (ninguém é obrigado ao impossível); mutatis, mutandis (mudando o que deve ser mudado) e vai por aí a listagem do Núncio.

Ainda hoje tais preciosismos adornam os papéis jurídicos. Rui Barbosa foi um precursor. Profissionais de outras áreas também criaram jargões próprios, dificultando a compreensão de seus textos pelos outros mortais. Daí o "economês", o "sociologuês" e outros idiomas dentro do idioma.

Houve uma literatura de linguagem complicada, que parte da crítica endeusou exatamente pelos exageros formais, e não por seu conteúdo superior. Foi o caso de Os Sertões, do grande Euclides da Cunha, repleto de afetações que mais escondiam do que mostravam a genialidade do autor. Joaquim Nabuco, em seus Diários, registra que não agüentou ler os adjetivos de Euclides: (...) "Aqui a floresta impede também de ver as árvores. É um imenso cipoal; a pena do escritor parece-me mesmo um cipó dos mais rijos e dos mais enroscados. Tudo isso precisa ser arranjado por outro, ou de outra forma." E houve um excelente poeta brasileiro, Augusto dos Anjos, que se tornou famoso pelos seus piores versos, aqueles de linguajar rebarbativo: "Cosmopolitismo das moneras / pólipo de recônditas reentrâncias..."

Os jornais, que no passado imitavam a literatura pedante, hoje primam pela expressão enxuta, e com isso prestam importante serviço ao idioma. Inclusive quando incorporam uma linguagem que, pelo uso corrente na oralidade, adquirem o direito de ingressar na linguagem escrita. Machado de Assis defendia esse valor da espontaneidade. Escreveu, a propósito de vocábulos que pulam das ruas para o papel: (...) "Eles nascem como as plantas da terra. Não são flores artificiais de academias, pétalas de papelão recortadas em gabinetes nas quais o povo não pega. Ao contrário, as geradas naturalmente é que acabam entrando nas academias."

Os parnasianos contribuíram fartamente para difundir os palavrões. O termo é aqui usado para definir palavras solenes, cobertas de lantejoulas, que passeiam a sua pose nos sonetos. Mesmo aquele de Olavo Bilac sobre a Língua Portuguesa e que começa com "Última flor do Lácio, inculta e bela", merece reparos. Primeiro, porque o poeta imaginou que todos os seus leitores tinham a obrigação de saber que o Lácio era uma antiga região da Itália, onde primitivamente se falava o latim. Segundo, porque já no quarteto seguinte ele chama sua musa de "Tuba de alto clangor", parecendo insultá-la. Ainda bem que se redime dos excessos iniciais nos dois belos tercetos aqui transcritos em homenagem ao autor e ao nosso idioma:

"Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas e de oceano largo! / Amo-te, ó rude e doloroso idioma, / Em que da voz materna ouvi: 'Meu filho!', / E em que Camões chorou, no exílio amargo, / O gênio sem ventura e o amor sem brilho!"

Sonetos, discursos e papéis jurídicos não foram os únicos a prejudicar a clareza do texto em português. É preciso lembrar as dissertações acadêmicas, especialmente aquelas da área de humanidades. Claro está que várias teses desta área contribuíram decisivamente para o avanço do conhecimento e a compreensão do Brasil. Mas houve outras, e também muitas, que vieram mais para complicar do que para explicar. Ainda bem que não saíram em livros. Esconderam-se, xerocadas, no escurinho das bibliotecas. Talvez com algum acanhamento de serem tão ininteligíveis e confusas.

Deixei para o fim, como nas estórias policiais, um culpado acima de qualquer suspeita. Ele goza de certa respeitabilidade e provavelmente não tem exata noção do mal que faz, em nome do bem. Estou me referindo ao gramático obsessivo, um guardião fundamentalista do idioma, que também age como carrasco da boa prosa. Não falo de bons e anônimos professores de português empenhados em difundir as boas normas nas escolas secundárias. Palmas para estes heróis obscuros que nem sempre têm o reconhecimento dos alunos e dos patrões, sejam estes governos ou empresários do ensino. Mas o purista ortodoxo trava a fluência da escrita, inibe os predicados que a embelezam para receber a visita dos leitores. O purista não é mau sujeito, ele erra supondo combater o erro. Um pai antiquado, rigoroso além da conta, que proíbe a filha de se fazer bonita para os rapazes. E, sendo intolerante como um pai de outros tempos, adora palavras daquele repertório dos oradores e passadistas em geral.

Grandes criadores na literatura mundial já se queixaram amargamente das restrições desses fiscais do vernáculo, que não abrem um livro em busca de prazer estético, e sim de erros para denunciar ou criticar. Não são erros, mas carícias de quem adivinha, pelo trato constante e apaixonado, as mil possibilidades que as palavras oferecem aos seus verdadeiros amantes. Palavras, palavras. Poetas e escritores dormem com elas, decifram seus mistérios. Nessa intimidade o texto é concebido. Já os gramatiqueiros, brandindo regras inflexíveis, não cansam jamais em sua tarefa de patrulhar as aventuras das meninas com os seus artistas.

23 junho 2006

O custo de não fazer

Uma reportagem do Wall Street Journal de hoje mostra o custo de não fazer. No caso, refere-se ao filme do Superman, adiado várias vezes.

A reportagem completa a seguir:

O supercusto de não realizar um filme
June 23, 2006 4:05 a.m.

Por Kate Kelly
The Wall Street Journal

Alguns anos atrás, o então presidente de produção da Warner Bros. Entertainment, Bill Gerber, levou um pequeno grupo de pessoas de Hollywood para uma luxuosa casa de veraneio que o estúdio mantinha em Acapulco. Entre eles estava o agente Gerry Harrington, cujo cliente Nicolas Cage havia sido escolhido para o papel principal numa nova encarnação da série de filmes Superman.

Logo depois de chegarem lá, Gerber recebeu um desagradável telefonema informando-o que o estúdio estava descartando o projeto com Cage por questões de orçamento e roteiro. "Eu tinha a nada invejável tarefa de dizer a Gerry Harrington que estava tudo acabado", lembra Gerber. "Foi um desastre."

Oito anos depois, a Warner Bros., da Time Warner Inc., está pronta para apresentar sua nova versão do mais famoso super-herói. Superman – O Retorno — que estréia dia 28 de junho nos EUA e 14 de julho no Brasil — traz o pouco conhecido ator Brandon Routh e o diretor de X-Men, Bryan Singer. A Warner Bros. diz que o filme custou US$ 228 milhões mas que, com a isenção de impostos por ter sido feito na Austrália, o desembolso ficou perto dos US$ 209 milhões.

Nos últimos dez anos, a Warner Bros. experimentou cinco diretores, várias equipes administrativas no estúdio e pelo menos dez roteiros na tentativa de trazer o Super-Homem de volta à tela. A série estava dormente desde Superman IV – Em Busca da Paz, de 1987, o último e menos popular dos filmes com Christopher Reeve.

O esforço da Warner para relançar Superman é prova de que, em Hollywood, os filmes que não são feitos podem ser tão penosos e custosos quanto os que são. Estima-se que as versões fracassadas de Superman que precederam o filme de Singer custaram à Warner US$ 60 milhões em despesas de desenvolvimento, segundo entrevistas com mais de uma dúzia de atuais e ex-executivos, roteiristas, diretores e consultores que estiveram envolvidos no projeto em várias fases. Esse é o custo médio atualmente de uma produção hollywoodiana.

A Warner Bros. diz que esses custos já foram baixados de seu balanço. Mas a experiência mostra que mesmo a tarefa aparentemente simples de passar uma história popular de gibi para o celulóide às vezes pode virar uma peregrinação agonizante e custosa.

O projeto de Superman – O Retorno nasceu em 1993, quando a Warner Bros. adquiriu os direitos de fazer um novo filme do Homem de Aço. Jon Peters, o produtor ligado ao filme, trocou de roteirista pelo menos três vezes até 1997, passando por Jonathan Lemkin, um veterano roteirista de televisão, e Kevin Smith, do sucesso independente O Balconista. A Warner Bros. diz que 11 roteiristas custaram-lhe em média US$ 850.000 cada.

Mas foi tudo jogado fora em 1997, quando Tim Burton, diretor de Batman, entrou no projeto acompanhado por Cage e um novo roteirista de sua escolha, Wesley Strick. Mas o projeto, que seria baseado no quadrinho A Morte do Super-Homem, acabou engavetado no ano seguinte, por dúvidas quanto aos custos e ao roteiro, segundo pessoas à época envolvidas. O estúdio diz que gastou aí US$ 30 milhões.

Dali em diante, a Warner cogitou um filme de Batman contra Super-Homem, que seria dirigido por Wolfgang Petersen, de Na Linha de Fogo, mas voltou a arquivá-lo, antes de contratar Brett Ratner, que fez a comédia A Hora do Rush, para um novo filme só do Super-Homem.

Em seis meses de preparação, Ratner trabalhou com artistas de efeitos visuais e designers numa produção estimada em mais de US$ 200 milhões, gastando cerca de US$ 10 milhões. No começo de 2003, ele foi demitido.

A Warner Bros. finalmente acertou com Singer em 2004.

21 junho 2006

Conselhos de um Econometrista

Com o crescimento dos trabalhos empíricos, a facilidade de acesso a programas estatísticos e a pressão para publicar, estão surgindo cada vez mais trabalhos quantitativos de pesquisa em contabilidade. Em alguns desses trabalhos é perceptível a existência de falta de conhecimento na área quantitativa; em outros, a falta de reflexão sobre o tema pesquisado.

Talvez por esse motivo, o paper de Peter Kennedy, publicado no Journal of Economic Surveys, vol 16 , n. 4, em 2002, seja útil. Kennedy apresenta algumas recomendações interessantes e num determinado ponto o autor diz que:

"Um comentário de Ronald Coase que ´se você torturar um dado o suficiente, ele irá confessar´"

Ou seja, a ferramenta econométrica pode ser utilizada para provar o improvável. Nesse sentido, o autor chama a atenção para a necessidade de produzir a resposta correta para a pergunta errada.

Além disso, Kennedy enfatiza a necessidade de conhecer o que está sendo pesquisado. Isso inclui conhecer os dados: como foram gerados, como foram selecionadas as amostras, o que são as variáveis, como foram tratadas, etc. "Dados são números com um contexto. Conheça o contexto" afirma Kennedy. Isso inclui inspecionar as informações, fazer estatísticas descritivas, plotar gráficos, estudar o sentido da significância estatística dos resultados, relatar uma analise de sensibilidade (publicando todas as regressões rodadas, relatando o efeito no resultado de uma redução no período de tempo da pesquisa, por exemplo) etc.

Futebol 10

Do Jornal Valor Econômico de 21/06/06:


Opções de Brasil caem 17% desde a estréia

Por Adriana Cotias
Investidores dos quatro cantos do planeta não perdoaram a tímida atuação da seleção brasileira nos dois primeiros jogos da Copa do Mundo e as opções de Brasil campeão perderam mais de 17% da cotação que tinham às vésperas do início do campeonato. Ontem, eram negociadas com um intervalo de US$ 21,3 e US$ 21,8 para compra e venda, respectivamente, ante os US$ 26,2 e US$ 26,3 de 5 de junho, segundo o site Tradesports.com. O valor máximo pode chegar a US$ 100, o que representa a escala de probabilidade que vai até 100% para um time vencer o torneio.

Mesmo assim, o pelotão repleto de celebridades comandado por Carlos Alberto Parreira ainda se mantém no topo dos favoritos. A seleção da Argentina, por sua vez, foi a que mais se valorizou de lá para cá, refletindo a boa estréia na partida contra a Costa do Marfim e, principalmente, a goleada de 6 a 0 no embate com o time da Sérvia e Montenegro. As opções mais do que dobraram de valor e ontem eram negociadas a US$ 19,4 e US$ 19,8 para compra e venda, respectivamente, em comparação aos US$ 9,6 e US$ 9,8 do período que antecedeu o início do torneio mundial.

Com o atual nível de preços, a seleção argentina passou a ocupar a segunda posição entre as mais cotadas para erguer a tão almejada taça na final de 9 de julho, desbancando Alemanha e Inglaterra, que passaram ao terceiro e quarto postos - trocando também as posições entre si, já que a Inglaterra abriu o campeonato como a segunda favorita. A Espanha, que estreou bem, com quatro gols contra a Ucrânia e depois bateu a Tunísia por 3 a 1, teve valorização de 81%, cotada a US$ 9,4 e US$ 9,6, ante os US$ 5,2 e US$ 5,3 de 5 de junho.

Perdas significativas tiveram ainda os contratos sobre opções da Itália, com desvalorização de 10,8%, cotados a US$ 7,1 e US$ 7,4, e, os da França, com perda de quase 44%, negociados a US$ 3,6 e US$ 3,9, após dois empates, um contra a Suíça e outro em que teve a Coréia do Sul como rival. Já viraram pó e não dão mais jogo as seleções desclassificadas antes mesmo do fim da primeira fase do mundial: Costa do Marfim, Sérvia e Montenegro, Polônia, Irã e Togo.

Já nos bastidores do mercado local, quem vendeu opções de Brasil e comprou as da Argentina - a melhor arbitragem dada a distorção de preços - já embolsa lucros. Antes de o campeonato iniciar, a seleção brasileira era negociada nas mesas de operações nacionais num intervalo de R$ 31 e R$ 33 (para cada R$ 100), ante os R$ 12 e R$ 13 da Argentina. As opções da seleção argentina agora saem a R$ 19 e R$ 20. Já as de Brasil campeão ficam entre R$ 29 e R$ 30.

As transações com opções de Copa do Mundo replicam aquelas pactuadas entre dois investidores no mercado real, mas a diferença é que não há um ativo para entregar no final como ocorreria com opções sobre ações. Se, por exemplo, uma das partes paga R$ 30 pelo Brasil, ela terá direito a R$ 100 se a seleção for campeã, embolsando um lucro de R$ 70 por contrato. Caso contrário, a ponta "vendida" (que apostou na derrota) em Brasil ganha o prêmio de R$ 30 e o outro fica com as mãos abanando.

No Brasil, as apostas são informais, realizadas na base da confiança, e não há um mercado organizado ou legal que centralize cotações ou ordens de compra e venda. A possibilidade de inadimplência é grande, mas, em geral, os operadores levam a sério os compromissos assumidos porque continuarão negociando ativos entre si depois do fim do torneio. Após os pregões da Bovespa e da BM&F, eles negociam de tudo: de candidatos a vencer o Big Brother Brasil a eleições.

Nas bolsas de apostas internacionais, as transações são formais e há até a possibilidade de se pagar os prêmios usando cartões de crédito. A variedade de opções de Copa é grande e chega a detalhes como o número de gols de cada time nas partidas, o total em todo o torneio, candidatos a artilheiros e, no caso brasileiro, há até contratos que embutem a possibilidade de Ronaldo, o fenômeno, começar a partida contra o Japão jogando ou não. Por enquanto, as cotações apontam como hipótese mais provável que ele fique no banco de reservas quando soar o apito que dará início ao jogo contra a seleção capitaneada por Zico amanhã.

E pelo andar das apostas no site inglês Ladbrokes.com, Adriano é o mais bem cotado para ser o goleador brasileiro, seguido por Kaká, Fred e Ronaldinho. Ronaldo ocupa apenas a quinta posição entre os favoritos a balançar as redes para o Brasil. Na comparação com outros times para o posto de artilheiro da Copa, Adriano tem o quarto lugar, atrás do espanhol Fernando Torres, de Miroslav Klose, da Alemanha, e de David Villa, também da Espanha. A previsão é que a seleção brasileira faça mais de dez gols ao longo do campeonato.

20 junho 2006

Como utilizar uma figura

























Quando estamos produzindo qualquer material, um dos princípios fundamentais é ser claro com o leitor. Um exemplo interessante sobre como fazer e como não fazer pode ser encontrado no sítio Creating Passionate Users

O que a segunda figura diz? Sugestões: "cada ser humano não pode ter mais de dois cães sob seu controle"; ou "você pode ter um cachorro alemão, um Sheepdog, mas não um Spaniels".

No caso da figura, considerando que a resposta seja a primeira alternativa. Nesse caso, o que se deve fazer? O sítio propõe uma figura alternativa (a primeira mostrada aqui) e explica as razões da mudança:

=> Utilizar somente um tipo de cachorro. O melhor seria usar uma representação de um cachorro, sem preocupação com a raça. Nesse caso, diferença na imagem pode ser representada como uma informação significativa.

=> Incluir uma pessoa na figura, preferencialmente uma representação. O sítio coloca uma representação feminina, mas acho que a solução ainda assim não é adequada. Parece que está informando que "somente mulheres podem ter até dois cachorros", levando a pensar que para o sexo masculino isso não seria válido.

=> Fazer um "x" na figura onde existem três cachorros.

Como o risco de um país afeta a estrutura financeira

A empresas multinacionais adotam estratégias diferenciadas de acordo com o risco do país onde estão investindo. Segundo um trabalho divulgado por Desai, Foley e Hines Jr, denominado Capital Structure with Risky Foreign Investment, as empresas multinacionais administram sua estrutura de capital diante do risco do ambiente externo.

Os autores utilizaram mais de vinte mil observações para concluir que a estrutura financeira dessas empresas varia de acordo com o risco do país onde é feito o investimento. Isso é feito de duas formas. A primeira, através da redução do volume de recursos de capital próprio em ambientes mais arriscados. Nesse caso, as filiais são mais alavancadas (mais endividadas) do que a matriz.

Além disso, essas empresas também dividem as operações no estrangeiro com investidores locais. Entretanto particularmente tenho dúvidas se o uso de parceiros locais decorre da redução do risco ou se não seria uma forma de entrar no mercado.

Uma outra estratégia dessas empresas é utilizar a exportação para os países com risco como uma forma de reduzir a produção local, e consequentemente os investimentos.

O texto indica existir uma relação entre o risco do negócio e a estrutura de capital.

19 junho 2006

Auditoria do FMI e a crise da Argentina

Uma reportagem do Jornal do Comércio sobre a auditoria do FMI e a crise da Argentina.

Auditoria - Relatório aponta erros cometidos pelo FMI na Argentina

Da redação, com agências

Um estudo de um trio de especialistas independentes contratados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliou que o órgão manipulou e sonegou informações para proteger o próprio staff, esconder seus erros e acentuar a responsabilidade dos governantes da Argentina pelo colapso econômico ocorrido em 2001. O relatório divulgado na semana passada é mais uma sessão de análise da atuação do Fundo durante crise do país vizinho, que acabou levando a própria instituição para o divã. O FMI passa por uma crise sem precedentes em suas mais de seis décadas de existência, tanto financeira quanto de identidade.

O informe é uma espécie de "auditoria da auditoria" e põe em xeque os mecanismos internos do organismo multilateral. Os especialistas revisaram o trabalho da Oficina de Avaliação Independente OEI, na tradução do ingês) do FMI em dez países, incluindo a Argentina, para concluir que, no caso do país vizinho, o Fundo sonegou informações a seus auditores e os induziu a erros de análise.

"O staff manteve reservada informações do caso argentino. Não lhes informou (aos auditores da OEI) sobre as bases de um entendimento com Domingo Cavallo", diz o texto. Cavallo era então o ministro da Economia argentino, responsável pela política de conversibilidade (um dólar equivalente a um peso), arrastada até o fim de 2001.

Segundo o relatório, naquele ano houve discussões com Cavallo sobre a possibilidade de fazer mudanças estruturais na política econômica se as reservas chegassem a um nível muito baixo. Essas conversas não foram divulgadas suficientemente nem a própria OIE as apontou, segundo o informe.

O estudo é categórico ao dizer que o relatório da OEI sobre a crise argentina "acomodou" suas conclusões para proteger os diretores do FMI. "O rascunho sobre as razões que levaram ao colapso argentino se foca nos erros de análise por parte do staff e dos diretores do FMI: a versão final do parágrafo, porém, se centra nos erros de avaliação das autoridades argentinas", diz o grupo de especialistas liderado pela ex-diretora do FMI, Karin Lissakers. O governo argentino, que mantém tensa relação com o Fundo, não comentou o relatório, que ataca a gestão da "dama de ferro" Anne Krueger.

Para o presidente argentino, Néstor Kirchner, as receitas econômicas do FMI foram responsáveis pela crise argentina. Em janeiro deste ano, o país pagou toda sua dívida com o Fundo. Antes, Kirchner fez um duro discurso contra o órgão e pregou independência da política econômica do país.

O Fundo continua realizando missões de rotina no país. A última, na semana passada, elogiou a recuperação da economia argentina, mas deixou mais recomendações: afirmou que a inflação, a maior ameaça à economia que cresceu 8,6% no 1º trimestre, e as políticas do governo Kirchner para combatê-la "geram tensões que precisam ser resolvidas".

16 junho 2006

Não é notícia de Contabilidade Financeira


Eu sei. Não é notícia de Contabilidade Financeira. Mas não resisti pois trata da importância da informação que é evidenciada. É do sítio Terra:

Dono de carro roubado faz placa de "Frorianópolis"

Um veículo Toyota/Corolla preto roubado foi recuperado esta manhã por policiais rodoviários no km 439 da rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo. O carro trazia grafado em suas placas o número MHM 0058, com localidade "Frorianópolis", e não Florianópolis. O condutor do veículo foi preso.
A Polícia Rodoviária Federal descobriu, por meio da numeração do motor e do chassi, que as placas originais do veículo eram na verdade de São Bernardo do Campo (SP) e que o Toyota havia sido roubado em maio do ano passado.

O condutor confessou que comprou o carro, avaliado em R$ 50 mil, por R$ 5 mil, e o entregaria em um shopping em Florianópolis para uma pessoa desconhecida.

Ele foi preso e autuado em flagrante por uso de documento falso e receptação de carro roubado.

15 junho 2006

Futebol 9

A revista The Economist explica a razão pela qual a Copa do Mundo é melhor que as Olimpíadas:

"... A Copa do Mundo, ao contrário das Olimpíadas, é mais difícil de manipular para propósitos políticos (...)"

PAra a revista, as Olimpíadas tem sido uma medida acurada do poder político mundial. Os alemães nazistas ganharam as de 1936, os Estados Unidos e União Soviética disputaram o primeiro lugar durante a guerra fria e provavelmente os chineses tentarão ficar em primeiro lugar em 2008, em Beijing.

Para a revista, na copa do Mundo

"existe somente uma superpotência - Brasil. Os italianos e franceses (...) permanecem formidáveis competidores no campo do futebol"

Apesar do prestígio do jogo em termos mundiais, a revista observa que é muito difícil - senão impossível - um governo criar um time vencedor. Novamente a comparação com as Olimpíadas é desfavorável. A revista lembra dos robôs da Alemanha Oriental, dos ginastas romenos e dos nadadores chineses, programados pelo estado. No futebol um time necessita não somente de atletas mas também de criatividade e estilo, que não pode ser fabricado pelos planejadores do estado. Mesmo tomar drogas parece não ajudar muito no futebol.

Por essa razão a revista conclui que numa competição entre as Olimpíadas e a Copa do Mundo, esta leva o título de maior evento do esporte.

Proteção ao Minoritário

Reportagem do Valor Econômico de 14/06 sobre a necessidade de proteção ao minoritário:

Pouca proteção ao minoritário também reduz interesse


Um complicador para os mercados emergentes é que, em muitos, a lei oferece pouca proteção aos acionistas minoritários. Brechas em um contrato de dívida são fáceis de serem detectadas e policiadas, mas uma reivindicação de um acionista pode ser derrubada de uma hora para outra. O presidente do Conselho de Administração da Hyundai da Coréia do Sul, por exemplo, está sendo julgado sob acusação de ter desviado US$ 110 milhões de sua companhia.

Mas as coisas estão melhorando, segundo Simeon Djankov, do International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial (Bird). Em 28 de julho, uma nova lei de valores mobiliários entrará em vigor no México, endurecendo as penalidades. Os mercados de ações da Índia, certa vez descritos como um "ninho de cobras", se tornaram menos venenosos nos últimos anos, na medida em que a Comissão de Valores Mobiliários do país ficou mais agressiva. O Egito, sob comando de um ministro dos Investimentos durão, finalmente está aperfeiçoando as leis corporativas, algumas das quais vinham sendo deixadas de lado há 25 anos. Djankov teme que a onda de vendas indiscriminadas das últimas semanas possa desencorajar as reformas. Se é assim que os mercados recompensam seus esforços, por que eles deveriam se preocupar?

Se os investidores carecem de discernimento, também falta liquidez nos mercados. Os investidores institucionais americanos poderiam comprar quatro vezes todas as ações espalhadas pelos mercados emergentes. Na maior parte dessas bolsas de valores, diz o Bird, o volume de negócios é relativamente pequeno, girando menos de 40% do mercado em um ano, comparado a 250% na Nasdaq. Os negócios são muito mais intensos na Turquia, Tailândia e Índia, onde o giro supera 100%. No México, oito ações responderam por quase dois terços de todos os negócios em 2004.

Como resultado, a comoção nas bolsas nas últimas semanas pode não servir como uma medida confiável das perspectivas para cada uma dessas economias. É mais provável que elas sejam um simples sinal do peso do dinheiro que entra e sai de mercados que ainda são muito fracos para suportar esse fluxo confortavelmente. Isso torna o capital estrangeiro "irrelevante, na melhor das hipóteses, e extremamente perigoso, na pior", segundo um gestor de fundos.

Mas Michael Klein, presidente do IFC, está otimista. No curto prazo, as firmas de "private equity" podem apostar contra a manada. E, no longo prazo, à medida que o mundo rico envelhece, ele ficará ainda mais ansioso para dividir os frutos e as vantagens oferecidos pela mão-de-obra mais jovem do mundo em desenvolvimento.

13 junho 2006

Concentração bancária

Esse ano tive o prazer de ter um artigo aprovado no Congresso USP de Contabilidade em parceria com um ex-orientando (hoje mestre), Marcos Moraes. O artigo, e o tema da dissertação do Marcos, explora a questão da concentração bancária. O tema é atual e geralmente as medidas de concentração são através de dados da contabilidade financeira.

A reportagem a seguir, enviada pelo Marcos, mostra outro estudo conduzindo a conclusão pelo aumento da concentração bancária no País. É da Folha de 22 de maio.

Cresce a concentração bancária no país
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FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo

O número de bancos que operam no país não pára de cair. Na outra ponta, nunca houve tantos correntistas. Com os últimos dois negócios realizados no setor bancário -- com a compra do BankBoston pelo Itaú e do Pactual pelo UBS --, analistas voltaram a discutir mais acaloradamente o tema da concentração bancária.

Dados do Banco Central mostram que o total de bancos recuou de 191 em 2000 para 159 no fim de 2005 -- o que representa queda de 16,8%. Foram considerados os bancos múltiplos e comerciais.

Enquanto a variedade de instituições bancárias oferecidas ao público caiu ano a ano, o número de contas correntes deu um salto considerável, como reflexo da chamada bancarização -- ou seja, mais pessoas têm hoje acesso a serviços bancários. Em 2000, eram 63,7 milhões de contas correntes. No ano passado, essa cifra já havia alcançado 95,1 milhões (crescimento de 49%).

"Nos últimos dez anos tem havido um processo de encolhimento na quantidade de bancos, o que sem dúvida representa maior concentração. No longo prazo, se esse processo continuar no ritmo atual, poderemos começar a nos deparar com seus potenciais efeitos negativos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).

Carminatti explica que sempre é arriscado um setor da economia ficar nas mãos de poucos. As opções de escolha se restringem, e os efeitos positivos da concorrência -- como preços menores e benefícios para atrair clientes- acabam por desaparecer. "Quando a concorrência encolhe muito, o cliente é quem acaba por sofrer mais. Para o consumidor, a concentração bancária é sempre perigosa", afirma.

Procurada pela Folha, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) preferiu não se manifestar sobre o tema.

Mais postos

Ao menos a queda no número de bancos não se refletiu em encolhimento na rede de atendimento. Pelo contrário. Considerando o total de dependências -- agências, postos de atendimento e eletrônicos, entre outros-, a cifra chegou no fim de 2005 a 123,9 mil unidades. Em 2000 eram 54,1 mil.

Bruno Pereira, analista de bancos do UBS, diz que "há tendência clara de consolidação no setor, como mostram os números. O setor público tem diminuído sua participação no setor bancário nos últimos anos". Ele afirma que "alguma consolidação não é negativa". "Não vejo pontos negativos nesse processo até o momento. Ainda há competição nesse mercado."

Em tese, a venda de um banco para outro poderia ser um complicador para uma empresa. Se ela tivesse um crédito pré-aprovado em um banco e este fosse vendido para outro, poderia acontecer de perder essa operação, vendo-a ser recusada pelo novo proprietário da instituição. Ao menos, com a farta oferta de crédito que existe no país atualmente, é difícil que algo assim ocorra.

Analistas afirmam que, se o atual processo de diminuição no número de bancos fosse decorrência de uma quebradeira no setor, o movimento seria preocupante. Mas, se for resultado de compras e fusões sadias, o atual cenário representa menos perigo e menos riscos.

Estudo de Caso: Caixa da Enel

Eis uma reportagem interessante publicada no Wall Street Journal de hoje:

Energética italiana Enel vê-se com poucas opções para seu gordo caixa
June 13, 2006 4:05 a.m.

Por Stacy Meichtry
The Wall Street Journal

ROMA — A Enel SpA, segunda maior empresa de serviços públicos da Europa em valor de mercado, tem um problema: está com sobra de dinheiro e não consegue achar onde gastá-lo.

Desde que foi privatizada, em 1999, a empresa tem tirado o máximo de sua posição dominante no lucrativo mercado italiano, gerando receitas de 35 bilhões de euros (US$ 44,2 bilhões) no ano passado e elevando seu valor de mercado para 42 bilhões de euros.

A empresa juntou um caixa de 15 bilhões de euros. Mas não pode investir muito mais em casa porque está limitada por regulamentações. Por outro lado, seus investimentos no exterior representam 5% da receita total. "Nós queremos e devemos crescer no exterior", disse o presidente do conselho da empresa, Piero Gnudi, no mês passado.

Isso não é fácil. No começo do ano, a Enel pôs os olhos na empresa francesa de serviços públicos Suez SA, que controla a belga Electrabel. Mas enquanto a Enel trabalhava numa possível oferta, o governo francês entrou na questão e, agindo em nome do patriotismo econômico, fundiu a Suez com a estatal Gaz de France SA.
[enel]

A Enel não desistiu de fazer oferta pela Suez até a fusão francesa ser completada no fim deste ano. A italiana ainda mantém uma linha de crédito de 50 bilhões de euros que separou para usar numa grande aquisição, e consultores da companhia ainda trabalham no projeto.

Mas a opção preferida da empresa seria negociar com a Suez para comprar alguns ativos da Electrabel, dizem pessoas familiarizadas com a questão. É possível que isso seja discutido hoje, em Paris, entre o primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, e representantes do governo francês.

A Electrabel interessa à Enel porque permitiria que a empresa italiana começasse uma rede européia de usinas de geração e redes de distribuição de energia elétrica. Isso lhe daria a combinação ideal de ativos de energia nuclear, a carvão e renovável.

"A Enel tem de ter uma presença européia" para continuar competitiva, disse recentemente ao Wall Street Journal o diretor-presidente Fulvio Conti. "Escala é um fator muito importante para se poder negociar com outros países que têm matérias-primas e fontes de energia como petróleo, gás e urânio." A Enel não quis comentar sobre uma possível oferta pela Suez ou compra de ativos da Electrabel.

Se a Enel não conseguir botar as mãos na Suez ou na Electrabel, não há muitos outros ativos na Europa que ela poderia comprar. Outros continentes não são uma opção porque a força de uma empresa de energia vem da criação de redes ao redor de seu mercado doméstico. "Não vejo oportunidades para grandes aquisições", diz Pia Saraceno, um economista do centro de estudos REF, de Milão, especializado em questões de energia.

O dilema da Enel é um indício dos problemas cada vez maiores que as empresas de energia da Europa enfrentam ao tentar se expandir para além das fronteiras nacionais.

Muitas dessas empresas — como a E.On AG da Alemanha, energética européia com maior valor de mercado, e a Gaz de France — são ex-estatais que agora têm grandes reservas de caixa e aspiram a tornar-se forças regionais.

Mas quando buscam ativos em outros países, as energéticas esbarram em protecionismo.


1) O que significa contabilmente o "caixa" da Enel?
2) Como é possível dizer que a empresa possui um "caixa gordo"?
3) Cite um motivo para a empresa ter um "caixa gordo"?

Futebol 8

Mais sobre Futebol. Segundo Edmans, Garcia e Norli, do MIT, da Tuck e da Norwegian School, existe uma relação entre o sentimento em esportes e o retorno das ações.

Num artigo a ser publicado no prestigioso Journal of Finance, denominado Sports Sentiments and Stock Returns esses pesquisadores mostram uma extensa pesquisa realizada em 39 países do mundo sobre os resultados do futebol (soccer).

Os autores utilizaram os maiores torneios de futebol, em especial as eliminatórias da Copa do Mundo e a própria Copa do Mundo, e fizeram uma associação com o retorno do mercado acionário do dia seguinte ao jogo.

Além do futebol, os autores também utilizaram outros esportes (basquete, criquete, rugby e hockey no gelo), mas os efeitos encontrados são menores.

O estudo dos autores é parte de uma literatura recente que investiga como os preços dos ativos são influenciados por viés no comportamento. Pesquisa nessa área tem-se expandido nos últimos anos, como é o caso do estudo de Hirshleifer sobre o impacto do dia de sol no preço das ações. Anteriormente pesquisadores já tinham demonstrado um aumento no número de ataques cardíacos perto do jogo Inglaterra e Argentina pela Copa do Mundo. Outra pesquisa mostrou um aumento no número de suícidios entre os canadenses após a eliminação na Copa Stanley.

Utilizando uma amostra de mais de 2.600 observações, entre 1974 até 2004, os autores confirmaram uma ligação entre o comportamento do investidor e o resultado de eventos esportivos. O uso do futebol é justificável uma vez que é um evento que acontece em intervalos regulares e que afeta um grande número de países. Desse modo, as conclusões do trabalho são importantes para entender o efeito dos "sentimentos" nos preços.

Como era previsivel, os efeitos são maiores onde o futebol é mais importante. Ou seja, Brasil, Argentina, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha.

São diversos resultados para comprovar a hipótese da pesquisa. Mas para se ter uma idéia, em 138 jogos de eliminatórias, as derrotas implicam num recuo do mercado em 0,384% em média.

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11 junho 2006

Futebol 7

Os efeitos econômicos da Copa na imprensa. Agora o Estado de S Paulo de 11/06/06, p. E6:

Europa já ganhou o Mundial, nos negócios

Estudo prevê lucros nos países do Velho Mundo na Copa e prejuízo para os sul-americanos

Antero Greco, Eduardo Maluf e Jamil Chade

Nenhum país da América do Sul vencerá a Copa do Mundo da Alemanha. Isso é o que prevê, pelo menos em termos econômicos, um estudo do Centro de Pesquisas e de Negócios, uma das principais entidades de estudos da Inglaterra.

Segundo a pesquisa, o Mundial deverá render US$ 24 bilhões para os países que participam do evento. Desse total, porém, US$ 20 bilhões ficarão na Europa, enquanto as economias sul-americanas terão um prejuízo de US$ 550 milhões.

Segundo o modelo usado para calcular ganhos e prejuízos, a Copa traz dois efeitos a uma economia. De um lado, impulsiona o comércio e o consumo. De outro, afeta a produtividade das empresas diante da falta e das pausas dos trabalhadores durante as partidas.

A Alemanha seria a campeã econômica da Copa, com uma injeção de US$ 13,6 bilhões ao seu mercado que há anos não cresce. A Câmara de Comércio Alemã estima que 60 mil empregos foram criados para o evento e que o turismo terá um impulso nos próximos anos, por conta da imagem que o país transmitirá a todo o mundo.

Neste mês, cerca de 1 milhão de pessoas devem visitar a Alemanha e deixarão na economia local quase US$ 1 bilhão. A vice-campeã seria o Reino Unido, com benefícios de US$ 2,2 bilhões, ante uma injeção de US$ 1,2 bilhão na economia italiana, que também não é das mais aquecidas ultimamente.

Já os perdedores - Argentina, Brasil, Paraguai e Equador - sofrerão com os horários dos jogos. Isso porque 17 das 24 partidas envolvendo times da região ocorrerão durante o horário de trabalho, afetando a produtividade dos funcionários e dando prejuízo às economias.

O local onde a Copa é realizada é determinante para o cálculo dos ganhos econômicos de um Mundial. Na Copa de 2002, na Ásia, 15 países europeus sofreram perdas de US$ 11 bilhões, por causa das faltas dos trabalhadores. Pela diferença de fuso horário, os jogos foram transmitidos durante o horário comercial a Europa.

PRODUTIVIDADE

A consultoria Business Link, da Inglaterra, contraria o estudo e o senso comum, e aponta que a Copa não vai reduzir a produtividade dos trabalhadores, mas incrementá-la. O entusiasmo com uma vitória, segundo a pesquisa, pode levar a um melhor ambiente de trabalho.

Das mais de 2.300 companhias entrevistadas na Europa, 60% disseram que vão mudar os horários de trabalho para que os funcionários possam acompanhar a Copa. E só uma minoria acredita que isso terá influencia negativa sobre o resultado anual das companhias.

Diante da disparidade nos resultados das duas pesquisas, ambas de entidades respeitadas, tudo indica que a previsão de economistas e analistas de futebol sobre quem sairá campeão só poderá ser conferida após o Mundial.

10 junho 2006

Futebol 6

Reportagem da Folha de S. Paulo de 09/06/06

Começa o maior espetáculo de marketing

Copa do Mundo tem a maior audiência global e ainda o nacionalismo para torná-la oportunidade única para propaganda

Fifa arrecadou US$ 800 mi só com patrocinadores oficiais; empresas investem bilhões de dólares para promover produtos globalmente

MARK LANDLER
DO "NEW YORK TIMES"
Com uma audiência televisiva de mais de 5 bilhões de espectadores prevista para as próximas quatro semanas (boa parte, admita-se, composta por telespectadores repetidos) e uma expectativa de audiência de cerca de 300 milhões para a final, a Copa do Mundo é um colosso do marketing, eclipsando com facilidade o Super Bowl e as Olimpíadas.
"A Copa do Mundo conta com duas vantagens de que nenhum outro esporte desfruta", disse Shawn Bradley, vice-presidente de operações do Bonham Group, empresa de marketing esportivo dos EUA. "É o esporte mais popular do mundo, e não podemos esquecer do fator nacionalismo." Em países cujas seleções disputarão o torneio, disse Bradley, é comum que 95% das TVs estejam sintonizadas nos jogos das equipes nacionais. Os legisladores de Portugal recentemente votaram por adiar um debate parlamentar importante, quando descobriram que coincidiria com a partida de sua seleção contra o México.
Poucos eventos de qualquer espécie geram essa espécie de paixão. E isso constitui uma oportunidade única de promover produtos de massa, como calçados esportivos (Adidas), cartões de crédito (MasterCard), cerveja (Anheuser-Busch), fast food (McDonald's) ou internet (Yahoo).
Essas empresas estão investindo mais de US$ 1 bilhão em campanhas de publicidade e marketing vinculadas à Copa do Mundo de 2006. A Fifa arrecadou mais de US$ 800 milhões junto a 21 parceiros e fornecedores oficiais.
Diferentemente das Olimpíadas, que continuam a proibir a publicidade em estádios, como homenagem às raízes amadoras do evento, a Copa do Mundo é escancaradamente comercial. A Anheuser-Busch escolhe o "jogador da partida" depois de cada jogo. A McDonald's patrocina as crianças de entre 6 e 12 anos que acompanham os jogadores quando os times entram em campo.
"As Olimpíadas são uma mina de ouro, mas é preciso efetivamente minerar o metal", disse Nick Marrone, ex-dirigente olímpico canadense e diretor de marketing esportivo mundial na McDonald's. "Com a Copa do Mundo, o ouro pode ser encontrado um pouco mais perto da superfície."
Os EUA continuam teimosamente imunes à febre da Copa do Mundo, embora as empresas patrocinadoras insistam em que a popularidade do futebol vem crescendo a cada ano no país. Os hispânicos, eles apontam, são torcedores fiéis, especialmente dada a presença do México na competição e o favoritismo do Brasil.
Para os sete patrocinadores americanos, porém, a escassez de interesse nos EUA não é muito importante, dadas as audiências que eles serão capazes de atingir virtualmente em todos os demais países. Formam um grupo de corporações multinacionais, que auferem boa parte de seu faturamento fora de seus mercados de origem.
O Super Bowl, final do campeonato de futebol americano e principal evento de massa do esporte nos EUA, atraiu 95 milhões de telespectadores em todo o mundo, em fevereiro, de acordo com a Initiative Media, agência londrina de compra de mídia. Isso representa menos de um terço da audiência potencial da final da Copa.
"O que é atraente quanto à Copa do Mundo é o fato de que ela seja tão popular fora dos EUA", disse Tony Ponturo, vice-presidente mundial de marketing esportivo e mídia na Anheuser-Busch. "Nós vendemos a marca Budweiser em cerca de 70 países. E o evento realmente nos ajuda a promover a marca fora dos EUA." A Anheuser-Bush é um dos 15 parceiros oficiais da Copa do Mundo de 2006, na companhia de Coca-Cola, Gillette, da linha aérea Emirates, Hyundai, Fuji e algumas outras companhias.
Cada um dos parceiros está pagando entre US$ 45 milhões e US$ 50 milhões por direitos exclusivos pelo uso do nome "Copa do Mundo" em suas categorias de produto e por placas de publicidade nos estádios.
A próxima Copa do Mundo, na África do Sul, será ainda mais dispendiosa, com cotas de patrocínio estimadas em US$ 100 milhões, de acordo com especialistas em marketing esportivo. E mesmo assim a demanda é forte. A MasterCard, um patrocinador tradicional do evento, foi recentemente sobrepujada pela Visa, que assinou um acordo com a Fifa para as Copas de 2010 e 2014.
A MasterCard abriu processo contra a Fifa em Nova York, alegando que o acordo assinado entre a organização e a Visa violava o contrato vigente entre com a MasterCard. O McDonald's encara a Copa principalmente como oportunidade de promover sua marca fora dos EUA. A empresa está alardeando pesadamente o seu patrocínio da Copa em seus restaurantes na Europa e na América Latina, e também nas unidades americanas que atendem a uma clientela hispânica.

Marketing de emboscada
A atmosfera comercial da Copa também oferece muitas oportunidades às empresas que não são patrocinadoras oficiais. O marketing de emboscada, nome aplicado a esse tipo de tática, está florescendo de novo neste ano, ainda que os patrocinadores oficiais digam que a Fifa vem se esforçando ao máximo para impedi-lo.
Em fevereiro, a Fifa conseguiu um mandado judicial que impedia o Burger King de usar imagens do troféu da Copa do Mundo em sua publicidade em Israel. A empresa também foi forçada a suspender um concurso que prometia passagens para assistir à Copa na Alemanha, privilégio reservado aos patrocinadores.
Mas alguns dos recursos de marketing utilizados são impossíveis de reprimir. A linha aérea alemã Lufthansa pintou os narizes de seus aviões de branco e preto, como se fossem bolas de futebol, embora a Emirates, de Dubai, seja a patrocinadora oficial do transporte aéreo no certame.
Já a maior parte das federações nacionais de futebol têm patrocinadores próprios, e isso dá a essas empresas extra-oficiais uma chance de vincular suas marcas ao torneio. A Nike, por exemplo, patrocina oito das equipes no torneio, entre as quais Brasil e Estados Unidos. A Adidas, a despeito de seu status oficial, só patrocina seis, entre as quais a Alemanha.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Futebol 5

Do Jornal Folha de S Paulo:

Clubes de futebol faturam mais em 2005

Graças à parceria com a marca Kyocera, o Atlético-PR foi o que registrou o maior aumento percentual em suas receitas. Venda de Robinho coloca o Santos no topo do ranking; resultado das 20 maiores agremiações teve alta de 28% em relação a 2004

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 20 maiores clubes brasileiros conquistaram a receita conjunta mais expressiva da história do futebol nacional. Essa é uma constatação da Casual Auditores, que publicou, pelo segundo ano consecutivo, o ranking das maiores receitas do futebol no Brasil. A lista se baseia nos balanços publicados no ano anterior.
De acordo com a a análise da Casual Auditores, os 20 clubes com maior faturamento geraram R$ 1,05 bilhão em receitas em 2005. Esse resultado representa uma evolução de 28% em relação ao exercício de 2004, que foi de R$ 825,7 milhões.
Embora ainda pequena, a representatividade desse montante em relação ao PIB brasileiro também aumentou. Se em 2004 as receitas acumuladas dos clubes correspondiam a 0,047% do PIB nacional, em 2005 o faturamento das agremiações passaram a corresponder a 0,055% do PIB brasileiro, que foi de R$ 1,9 trilhão.
Esse resultado deveu-se principalmente às receitas geradas pela negociação de atletas, que superaram os R$ 300 milhões em 2005. Três jogadores contribuíram muito para o aumento desse valor, que em 2004 era de cerca de R$ 210 milhões: Robinho, que foi negociado pelo Santos por R$ 30 milhões com o Real Madrid; Cicinho, que saiu do São Paulo e também foi para o time merengue, e Fred, que se transferiu do Cruzeiro para o Lyon.
Não é à toa que o Santos figura no topo da lista da Casual. O clube do litoral paulista foi o que mais faturou com negociação de seus jogadores, com um volume de R$ 93,5 milhões, 204% superior a 2004.
Entretanto, na opinião de um dos analistas da auditoria, os números que mais chamam a atenção são os do São Paulo. O clube do Morumbi foi o que mais gerou receitas com os direitos de transmissão no ano. Aproveitando-se do sucesso na Libertadores e no Mundial de Clubes, o São Paulo arrematou R$ 93,5 milhões com a TV.
"O clube conseguiu crescer no faturamento, mas não foi devido à venda de jogadores. Embora seja um dos maiores vendedores de atletas, esse aspecto corresponde a apenas 23% de seu faturamento. O restante das receitas o clube conquistou com seu desempenho esportivo, com premiações na Libertadores e no Mundial", disse Amir Somoggi, analista da Casual Auditores.
Outros clubes que chamam a atenção são dois do Paraná. Curiosamente, Coritiba e Atlético-PR registraram os maiores crescimentos percentuais de suas receitas em um ano.
"O Coritiba e Atlético-PR cresceram pelo mesmo motivo: venda de jogador. Entretanto, o Atlético tem um diferencial. O salto de R$ 40 milhões em suas receitas é fantástico para o porte que tem o clube. E isto se deve ao contrato com a Kyocera", conta Somoggi. Em 2004, a Arena da Baixada tinha gerado receitas de R$ 1,6 milhão. Já em 2005, após o clube ter firmado parceria com o patrocinador, as receitas do estádio pularam para R$ 13,3 milhões.
Nas receitas de patrocínio, os dois clubes de maior torcida lideram. O Corinthians foi o que clube que conquistou o maior montante: R$ 42,7 milhões. Com os contratos com a Samsung, o clube do Parque São Jorge aumentou em 234% sua receitas com patrocínio em relação a 2004.
Além disso, o Corinthians também se beneficiou do faturamento de bilheterias. Somente no Campeonato Brasileiro, em que se sagrou campeão, o Corinthians faturou com bilheteria R$ 7,2 milhões.
Já o vice brasileiro, Internacional, parece não ter se beneficiado tanto do sucesso de sua campanha no último Nacional. O clube registrou uma queda de 23,3% em suas receitas e caiu para a nono no ranking. "Isso se deve ao fato de que o Inter é muito dependente da venda de atletas para equilibrar as suas contas. Em 2004, o clube vendeu Nilmar e Daniel Carvalho e foi líder na transferência. Já neste ano não negociou muitos", concluiu Somoggi.

07 junho 2006

Futebol 4

Segundo o Goldman Sachs, o Brasil é o grande favorito da Copa do Mundo. Conforme um relatório divulgado, são de 12,4% as chances do Brasil. Inglaterra, França e Espanha seguem na ordem.

O mesmo relatório aponta também existir uma correlação inversa entre o Ranking da FIFA e o PIB per capita de cada país. Ou seja, os países com melhor ranking na FIFA são aqueles que possuem maior PIB per capita (correlação de -0,41).

O documento também utiliza dados dos bookmakers, onde o Brasil aparece com 11/4 nas apostas, seguido da Inglaterra (6/1), Argentina (7/1), Alemanha (7/1) e Itália (8/1).

Isso não quer dizer muita coisa pois na copa anterior o Goldman Sachs não apontava o Brasil como um dos favoritos. De qualquer forma, vale também o registro de qual será a seleção da Copa:

Buffon (Italia)
Cafu (Brasil)
Terry (Inglaterra)
Nesta (Italia)
Carlos (Brasil)
Beckham (Inglaterra)
Ronaldino (Brasil)
Ballack (Alemanha)
Henry (França)
Rooney (Inglaterra)
Ronaldo (Brasil)

Só o futuro dirá.

Futebol 3

Outra notícia sobre Futebol e Mercado.

Torcida organizada
Por Adriana Cotias
07/06/2006

Gigantes do mundo financeiro como Goldman Sachs, UBS e ABN Amro dedicaram extensos relatórios ao tema Copa do Mundo, com estatísticas sobre favoritos e até correlações entre países vencedores do torneio e o crescimento da economia. A dois dias do início do campeonato, não dá para ignorar que, num país apaixonado por futebol como o Brasil, o evento esportivo tem o potencial de mexer com o ritmo de transações e até com os ânimos dos investidores. Nos bastidores, os negócios com opções das seleções participantes já mobilizam meio mercado e o time canarinho aparece como um dos contratos mais valorizados.

A rotina do investidor muda a começar pelos pregões da Bovespa e da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que terão seus horários reduzidos quando o Brasil entrar em campo. Nos jogos dos dias 13, contra a Croácia, e 22, contra o Japão, as operações na Bovespa vão terminar às 15 horas, duas horas antes do encerramento regular. E não haverá after-market.

Na BM&F, os negócios envolvendo contratos futuros de Ibovespa e IBrX-50 acompanham o mercado à vista, assim como as transações com taxas de câmbio e de juros futuros. A roda de dólar à vista vai funcionar das 9 às 15 horas. As agências bancárias vão atender das 9h30 às 14h30 nas capitais, interior e regiões metropolitanas.

E se tudo vai parar antes do jogo, mais cautela precisará ter o investidor, pois a liquidez se reduz naturalmente nesses dias e ordens de compra e venda podem não ser executadas com a facilidade dos pregões tradicionais. "É melhor não deixar os negócios para o final", recomenda o diretor da Fator Corretora Antonio Milano.

Além da questão da liquidez, a Copa do Mundo ainda mexe com os brios da economia. É mais ou menos sabido que alguns setores costumam ser beneficiados, mas a tese foi levada ao extremo no estudo Soccernomics do holandês ABN Amro , que procurou quantificar a relação entre futebol e crescimento econômico.

Ao avaliar as copas desde 1970, os autores Ruben van Leeuwen e Charles Kalshoven concluem que países que conquistam o campeonato adicionam, na média, 0,7 ponto percentual ao PIB do ano em comparação ao anterior. Já o vice-campeão perde 0,3 ponto percentual no ritmo de atividade. O mercado acionário do vencedor também costuma reagir melhor comparativamente, com um retorno médio de 10%, ante perda de 25% do finalista perdedor. Esses desempenhos estão associados não só ao aumento da confiança dos agentes econômicos, mas também à evolução das relações comerciais no avançar do campeonato, já que alguns países ficam na vitrine.

O "favorito econômico" dos estudiosos é um país europeu, mais especificamente a Itália. A nação é, na visão deles, a que precisaria ter a economia impulsionada, já que Estados Unidos, América Latina e Ásia têm apresentado taxas de crescimento relativamente altas nos anos recentes. Usando correlações estatísticas, eles concluem, porém, que será o Brasil que baterá a França na final em Berlim.

Pelo modelo de probabilidade do Goldman Sachs, a seleção brasileira tem 12,4% de chances de conquistar o título. Em segundo lugar aparece a Inglaterra (8,6%), seguida pela Espanha e França (cada uma com 8,3%), Holanda (8%), Argentina (7,4%), Portugal (5,8%), Alemanha (5,5%) e Itália (5,3%).

O relatório de 59 páginas traz uma contribuição do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que faz um paralelo entre a economia brasileira e as copas. Ele lembra que, em 1982, o Brasil voltou da Espanha derrotado pela França bem às vésperas da reestruturação da dívida externa - desencadeada pelo "default" do México, dando início à chamada década perdida. Em 1994, ano da vitória brasileira sobre os Estados Unidos, foi o marco do processo de estabilização de preços com o Plano Real. E após a conquista de 2002, Fraga dá o seu palpite bem ao gênero mesa redonda: Ronaldo e equipe conduzirão o Brasil ao hexacampeonato.

Não é o que prevê, entretanto, a equipe de análise da UBS Wealth Management Research, que por meio de simulações similares às usadas em previsões para o mercado concluiu que a Itália é que erguerá a tão almejada taça após enfrentar o Brasil na final.

No meio da badalação esportiva, o investidor não pode esquecer, sobretudo, que Wall Street, o cerne do estresse que tem remexido os mercados emergentes, continuará a todo vapor. Nas mesas nacionais será um olho na TV e outro nos terminais com os índices das bolsas internacionais e cotações de bônus, commodities e moedas, diz o diretor de Varejo da Ágora Senior, Marcelo Smarrito. "Se o investidor fez posições bem fundamentadas, o mercado pode ferver lá fora e aqui ele pode desligar os botões", diz.

Quanto às opções de investimento, o frenesi com a Copa do Mundo já vinha sendo incorporado aos preços das ações pertencentes à cadeia do consumo desde o início do ano, diz o diretor da Concórdia Corretora Marcelo Canguçu. Mas, com a virada recente, algumas oportunidades reapareceram. Nas indicações para a Carteira Valor de junho, oito entre as dez corretoras participantes sugeriram papéis relacionados ao aquecimento da atividade: Guararapes, Net, Pão de Açúcar, Lojas Americanas e Itaú são alguns desses exemplos.

O analista da Link Corretora Adriano Blanaru tem Ambev PN entre as suas indicações. Independente dos rumos do campeonato, ele diz que a fabricante de bebidas vem adotando um programa mundial de redução de custos espelhado na operação brasileira. E como os ativos da controladora do Canadá estão debaixo da Ambev, a subsidiária brasileira tende a captar a racionalização. Marco Melo, chefe de análise da Ágora, também indica Ambev PN e calcula que o volume de vendas entre junho e julho será de 5% a 10% maior do que 2005 só pelo efeito Copa.

Valor Econômico

Futebol 2

A influência do Futebol sobre os mercados, segundo reportagem do Jornal do Commercio de 07/06/2006:

Américas - Menos operações; mais Copa do Mundo

DA AGÊNCIA REUTERS

Em poucos dias, o verde dos campos de futebol roubará quase toda a atenção normalmente voltada para as telas com cotações de ações e títulos na América Latina, e a sorte das seleções será mais importante do que qualquer decisão do Fed. Tudo isso por causa da Copa da Alemanha, em que a América Latina e o Caribe terão sete representantes, sendo dois deles Brasil e Argentina grandes favoritos.

Em uma região apaixonada pelo futebol, os mercados já especulam como será a vida a partir de sexta-feira. No intervalo entre as partidas, as operações devem ocorrer a meia força. Já na hora dos jogos das seleções locais, os mercados ficam praticamente parados. Operadores de diferentes países consultados pela Reuters concordam que nesses momentos o ritmo dos negócios será guiado apenas pelo que ocorrer em Wall Street. "Estamos colocando vários televisores para que possamos ver os jogos", disse Álvaro Bandeira, da corretora de valores Ágora.

Em alguns bancos do México e da Argentina, entre outros, os próprios empregados compraram TVs, que serão sorteadas ao final da Copa. "O mercado ficará distorcido. Haverá negócios esporádicos de acordo com a urgência, mas a pausa será normal", disse José Ansa, dono da Ansa Corretores de Câmbio.


Influência

Os operadores admitem inclusive que o Mundial poderá influenciar o temperamento dos mercados, especialmente no Brasil, que vive clima de grande otimismo e tem a Copa como prioridade. Embora poucos admitam, operadores e analistas já "programaram" faltas e doenças passageiras entre a próxima sexta-feira e 9 de julho.

Devido ao fuso horário, dessa vez os operadores da América Latina devem acompanhar ao vivo, durante o expediente, a maioria dos 64 jogos. Com a instalação de TVs nas salas de operação, quem quiser faltar precisará ser bem criativo.

No Brasil, os bancos e a Bovespa foram autorizados a mudar seu horário de funcionamento em dias de jogos da seleção. "Já reorganizamos nossas reuniões dos comitês de investidores para que não coincidam com os horários das partidas", disse Manuel de La Torre, executivo de uma operadora de sociedades de investimento na Cidade do México, com filiais em mais de seis países, entre eles Argentina, Brasil e Estados Unidos.

A Bolsa argentina decidiu colocar um telão na sala do pregão. "Já existe um clima de Copa entre os investidores e operadores, é comum que nas conversas de negócios entrem temas do futebol", disse Juan Diderich, operador da Capital Markets Argentina.

No México, os operadores acostumados a apostar na Bolsa criaram um bolão eletrônico. Marco Delgado, mediador de mercados de dívida do BBVA Bancomer, não apostou na seleção do seu país.

Projeção no Futebol

Segundo notícia do jornal Valor Econômico, enviada por Ricardo Viana, o Brasil é a melhor seleção para o mercado de opções. Outras pesquisas, postadas aqui, também confirmam esse favoritismo. Para quem gosta de futebol...

Brasil é a seleção melhor cotada no mercado de opções

De São Paulo
O favoritismo da seleção brasileira está expresso nas bolsas de apostas que se espalham pela internet e nas mesas de operações nacionais. As opções de Brasil campeão estão entre as mais caras, com ofertas de compra e venda a US$ 26 e US$ 26,2, respectivamente, segundo o site Tradesports.com, ante um preço máximo de US$ 100. Em seguida, os mais bem cotados são Inglaterra, a US$ 11,5 e US$ 11,7; Alemanha (US$ 10 e US$ 10,2); Argentina (US$ 9,5 e US$ 9,8), e, Itália, com um intervalo de US$ 7,9 e US$ 8,2 entre compra e venda. A França, que estaria na final com o Brasil segundo os cálculos do ABN Amro, aparece apenas como a sexta seleção melhor avaliada, com ofertas a US$ 6,8 e US$ 7,00.

No mercado brasileiro, os favoritos mudam de posto, mas as opções de Brasil seguem na liderança, cotadas entre R$ 31 e R$ 33. A Alemanha, anfitriã do campeonato, aparece em segundo lugar, a R$ 14 e R$ 15, seguida pela Inglaterra, a R$ 8 e R$ 10, e pela eterna rival argentina, cotada a R$ 12 e R$ 14 na compra e na venda, respectivamente. Toda essa brincadeira resulta no final em pagamentos que chegam a R$ 200 mil entre as partes.

Não é de hoje que nas mesas de negociações nacionais os operadores apostam em praticamente tudo: em reality shows como Big Brother Brasil e No Limite, passando por opções de Fórmula 1, Jogos Olímpicos, eleições e campeonato brasileiro. As transações com contratos das seleções participantes da Copa de 2006 só não estão mais aquecidas aqui porque há cerca de um ano houve um "default" com opções do campeonato brasileiro, em que a ponta perdedora não teve condições de honrar o total do débito.

As apostas são fechadas na base da confiança e não há um mercado organizado ou legal para centralizar as operações. Nos sites internacionais, as transações podem ser efetuadas até com cartão de crédito e há uma infinidade de variações.

No próprio Tradesports.com há a possibilidade de o investidor negociar índices de Copa do Mundo, arriscar o placar das partidas, os vencedores de cada grupo ou defender posições nos jogos individualmente. Na estréia do Brasil contra a Croácia, no dia 13, por exemplo, a seleção comandada por Parreira aparece com ofertas de compra e venda a US$ 68,0 e US$ 69,0 respectivamente, ante US$ 9,2 e US$ 9,9 do time rival, confirmando a predileção pelo time brasileiro desde a largada. (AC)

06 junho 2006

Conselhos para um orientando

Sempre que posso, leio dicas sobre orientação e metodologia. Preferencialmente algo prático, longe do linguajar acadêmico, que seja efetivamente aplicável. Como admiro muito os trabalhos produzidos pelos norte-americanos, a consulta a textos com conselhos é sempre útil.

Além disso, estamos, nós brasileiros, literalmente mudando nosso estilo científico na pesquisa contábil. Já deixamos de lado a pesquisa bibliográfica e produzimos cada vez mais textos empíricos.

Michael Kremer apresenta algumas sugestões interessantes sobre um trabalho empírico e um trabalho de modelagem. Eis alguns conselhos (adaptado):

Trabalho Empírico

1. Descreva os dados. Quantas observações? De onde vieram?
2. Inclua tabela que mostre a média das variáveis e seus desvios.
3. Como regra, é usualmente melhor mostrar os erros padrões do que a estatística "t".
4. Olhe para um artigo publicado para ver como apresentar uma tabela. Evite linhas horizontais.
5. Inclua informações básicas como o tamanho da amostra e o R.
6. Na medida do possível faça a tabela autoexplicativa, inclusive no título e nas notas.
7. Você deve explicar seu trabalho empírico com detalhes suficientes para que alguém o replique.
8. Se você usa um instrumento, explique as razões pelo qual você pensa que é válido.

Exposição

1. A introdução e a revisão não deve tomar mais do que 5 páginas. Depois disso, vá para o modelo.
2. Sempre inclua um resumo.
3. No resumo e na introdução, não somente diga o que você irá examinar, mas também descreva os resultados. (Aqui, uma nota minha: no Brasil não fazemos isso)
4. Não devem ter mais do que 45 páginas. 20 a 30 é o mais apropriado.

Prejuízos da aposentadoria

Já se sabe que a aposentadoria aumenta os gastos públicos uma vez que o Estado assume o compromissos de pagamentos regulares para os aposentados.

Agora, três pesquisadores, Dhaval Dave, Inas Rashad e Jasmina Spasojevic descobriram que a aposentadoria provoca efeitos na saúde física e mental das pessoas. Examinando os efeitos da aposentadoria sobre as doenças e depressão, e utilizando dados em painel, os autores verificaram que a aposentadoria aumenta de 23 a 29% as dificuldades associadas com a mobilidade e atividades diárias. Além disso, reduz em 11% a saúde mental.

Reduzindo Custos nas Cias Aéres 2

A conseqüência da redução dos custos está nos resultados das cias aéreas:

Companhias aéreas recuperam-se nos EUA
June 6, 2006 4:05 a.m.

Por Evan Perez e Melanie Trottman
The Wall Street Journal

Apesar dos altos preços do combustível, as grandes companhias aéreas americanas estão dando sinais de recuperação depois de cinco anos de perdas brutais, algo que muitos analistas e empresas não achavam possível há seis meses.

Os melhores resultados financeiros que sete das dez maiores companhias aéreas dos Estados Unidos apresentaram nos últimos meses refletem uma mudança fundamental de estratégia, que vai além do esforço das empresas mais antigas de arrancar bilhões de dólares em concessões dos trabalhadores. As grandes empresas aéreas, que por décadas insistiram em obter maior fatia de mercado a qualquer custo, agora se concentram com a mesma persistência na lucratividade de cada rota e vôo.

Companhias tradicionais — como a American Airlines e a Delta Air Lines, que arcam com grandes aposentadorias e outras obrigações trabalhistas anteriores à desregulamentação do setor em 1978 — abandonaram muitas das táticas que levaram à sua fraqueza cíclica. Cada vez mais elas se recusam a voar com aviões meio vazios para manter-se competitivas em determinadas rotas só para alimentar suas redes nacionais. Embora a recuperação ainda esteja nos primeiros estágios e possa descarrilar por causa de um aumento maior do petróleo ou de outros fatores, a nova ênfase que elas dão à lucratividade parece estar dando certo.

[airprice]

As seis maiores companhias aéreas tradicionais dos EUA — a American, da AMR Corp., a Continental Airlines, a Delta, a Northwest Airlines, a United Airlines, da UAL Corp, e a US Airways Group — estão pondo no ar bem menos aviões atualmente, esquematizando suas frotas e aumentando o preço das passagens onde podem. Novas estatísticas de 2005 mostram que essas companhias tinham juntas uma frota de 2.747 aviões, 21% a menos que no fim de 2000, segundo a Associação de Transporte Aéreo dos EUA (ATA).

A American, que é a maior empresa áerea do mundo em tráfego de passageiros, decidiu recentemente estacionar 27 MD-80s que ela havia usado durante muitos anos para ajudar a atender à maior demanda do verão americano. Ela concluiu que o custo de operar no resto do ano um avião mais velho e bebedor de combustível tinha um peso maior que o benefício de ter capacidade extra no verão.

Graças à forte economia dos EUA, a demanda pelo número menor de assentos disponíveis se manteve alta. No ano passado, as companhias americanas tiveram ocupação média de 77,6% dos assentos nos vôos domésticos e internacionais, ante 75,5% em 2004 — os índices mais altos desde 1946, segundo a ATA.

Reduzindo Custos nas Cias Aéreas

Uma reportagem do Wall Street Journal mostra como as empresas aéreas adotam pequenas mudanças (redução da água que levam para bordo, número de revistas disponíveis para os passageiros, redução da velocidade dos aviões, utilização de tratores para taxiar com motores desligados, etc) para economizar combustível e sobreviver ao aumento dos preços do petróleo.

Eis a reportagem completa:

O que a aviação faz para economizar combustível
June 6, 2006 4:05 a.m.

Por Scott McCartney
The Wall Street Journal

O combustível tornou-se um fator maior nos custos de uma companhia aérea que a mão-de-obra, e a maneira com que as empresas se ajustam à alta do petróleo pode determinar vitoriosos e perdedores no setor.

Não por acaso, a aviação civil tem feito esforços dramáticos para conservação de combustível. Nos Estados Unidos, os passageiros podem ver as mudanças em tudo, desde o número de revistas nos aviões até a velocidade deles ou na aparência das asas. Grande parte da economia feita recentemente também vem da maior eficiência nas operações, como taxiar com apenas uma turbina ligada ou alisar pequenos amassados que podem prejudicar a aerodinâmica de um avião.

A pressão do custo do combustível pode acabar forçando mais consolidação entre as companhias aéreas. Mas apesar de muita gente ter previsto, alguns anos atrás, que o setor não poderia funcionar se o preço do petróleo chegasse a US$ 60 por barril, a intensa conservação, a suspensão de vôos deficitários e o aumento generalizado das tarifas podem ajudar algumas até a ter lucro este ano. E isso com o petróleo por volta de US$ 70. (Ver texto ao lado.)

As companhias aéreas americanas aumentaram sua eficiência no uso do combustível em 83% desde o começo dos anos 80, quando medido em receitas por passageiro-milha, segundo a Associação de Transporte Aéreo dos EUA.

A United Airlines, da UAL Corp., diminuiu a velocidade de cruzeiro de alguns de seus aviões para economizar combustível. Várias companhias colocaram coletes salva-vidas em mais aviões para que eles possam fazer mais vôos diretos sobre a água. E algumas compraram grandes tratores para rebocar aviões até os hangares de manutenção, em vez de fazê-los taxiar até lá com os motores ligados.

A Continental Airlines comparou a queima de combustível de cada um de seus aviões e pôs sob severo exame aqueles que eram um pouco menos eficientes. Os mecânicos verificaram a atuação das turbinas, consertaram amassados e certificaram-se de que os flapes ficassem bem alinhados — para que se retraiam completamente quando têm de ser recolhidos, por exemplo.

A Administração Federal de Aviação dos EUA ajudou nessa economia ao reduzir a separação vertical — a distância mínima que os aviões devem manter quando voam acima ou abaixo uns dos outros — de 609 metros para 304 metros em altitudes de cruzeiro. Isso dobra a capacidade, permite mais rotas diretas e permite que mais aviões voem nos melhores níveis de vento.

A maioria das empresas também pôs seus aviões em dieta, para deixá-los mais leves e assim queimar menos combustível. A Alaska Airlines disse que estava economizando US$ 10.000 em combustível por ano ao tirar cinco revistas de cada avião. As companhias também tiraram telefones do encosto dos assentos, já que eles não eram mais usados, e agora carregam menos água a bordo para reduzir peso.

A JetBlue e a America West passaram a ter cabines de comando sem papel para que os pilotos não levem a bordo maletas pesadas com gráficos e mapas. A American Airlines, da AMR Corp., diz que está estudando o uso de "bolsas de vôo eletrônicas", que pesariam menos que as maletas de 18 quilos que os pilotos carregam hoje.

Ao todo, as empresas aéreas americanas queimaram 52,2 bilhões de litros de combustível em rotas domésticas, 4% menos do que em 1999, segundo o Escritório de Estatísticas de Transporte dos EUA.

05 junho 2006

Uso da Web e o Custo dos Bancos

Reportagem da Folha de São Paulo de hoje fala sobre o uso da internet e o impacto sobre o custos nos bancos.

Uso da web dispara e reduz custo de banco

Em 2005, correntistas fizeram 5,8 bilhões de operações usando a internet contra só 3,7 bilhões realizadas nos caixas. Mudança turbina os lucros pois o custo na rede é de R$ 0,10, enquanto no caixa chega a R$ 1,10, segundo sindicato dos bancários

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A internet ganha cada vez mais a preferência dos clientes de bancos. Em 2005, as transações pela rede bateram de longe as realizadas pessoalmente no caixa, ampliando a vantagem constatada já em 2004. Comodidade e rapidez são os principais tópicos apontados para explicar o fenômeno.
Em 2005, as operações bancárias feitas pela internet totalizaram 5,85 bilhões. As feitas no caixa somaram apenas 3,72 bilhões. Há muito pouco tempo, em 2003, a realidade era bem diferente: naquele ano, as transações via internet chegaram a 2,63 bilhões, enquanto as no caixa bateram os 4,45 bilhões. Os dados pertencem a estudo feito pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
"A internet trouxe várias comodidades para o cliente. Ele não tem mais que sair de casa para fazer suas operações bancárias. As pessoas podem agora até agendar pagamentos de contas, além de poder cuidar de suas contas mesmo viajando", diz Luís Marques de Azevedo, consultor da Febraban.
Um rápido crescimento no número de pessoas com acesso ao internet banking também ocorreu nos últimos anos. De um universo de 8,3 milhões de pessoas em 2000, chegou-se ao número de 26,3 milhões no fim de 2005 -ano que registrou um aumento de 45,3% em relação a 2004.
As operações de pessoa física e jurídica feitas em 2000 via internet representaram 3,7% do total das transações bancárias. No ano passado, já haviam alcançado 17% do total.
Além da explosão do uso da internet, os postos de auto-atendimento também têm ganhado considerável terreno nos últimos anos. Em 2000, foram contabilizadas 6,16 bilhões de operações por esse meio. Em 2005, somaram 10,79 bilhões.
Para os bancos, essa informatização dos clientes é bastante vantajosa, com queda em seus custos operacionais.
"As instituições financeiras só têm a comemorar essa mudança no perfil de seus clientes. Caem os custos operacionais e se reduz a necessidade de ampliar o quadro de funcionários. Esse movimento se refletiu também na diminuição no volume de cheques compensados, que eram mais onerosos para os bancos", afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração).
O número de cheques compensados em 2005 caiu 7,93% se comparado a 2004. No ano passado, foram 1,94 bilhão de cheques compensados. Em 2000, foram 2,64 bilhões.
E isso tem ocorrido em um período em que cada vez mais pessoas têm acesso aos serviços bancários -a bancarização. De 2000 para 2005, o número de contas-correntes saltou de 63,7 milhões para 95,1 milhões.
Segundo informação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o custo médio para os bancos em um operação feita no caixa é de R$ 1,10. Quando a operação é feita por um meio eletrônico (internet ou caixa eletrônico), esse custo cai drasticamente, para R$ 0,10.
"O canal internet representou um benefício excepcional para os dois lados. O cliente passou a poder fazer suas operações a qualquer momento e em qualquer lugar. E, para os bancos, o sistema é um filé mignon, explicando parte dos crescentes ganhos das instituições", afirma Azevedo.
"É indiscutível que os bancos tiveram grandes benefícios com essa mudança no perfil das operações. Além de custos menores, não tiveram de ampliar expressivamente o número de agências e funcionários para acomodar o crescimento da bancarização no país", diz Carminatti.

Modismo em Investimentos

Modismo pode dar prejuízo

Aplicações - Investimentos que ganham fama

repentina nem sempre são indicados para o longo prazo

YUKI YOKOI
DO JORNAL DO COMMERCIO

Os investimentos financeiros também estão sujeitos aos modismos. São aqueles períodos em que determinadas aplicações ganham maior visibilidade e parecem ser, sem dúvidas, a alternativa mais atraente do mercado. Os ativos rurais já foram moda e, recentemente, ganharam novamente as manchetes dos jornais. Casos como Boi Gordo e Avestruz Master traumatizaram muitos investidores. No entanto, nem tudo que está na moda é prejudicial ao investidor. Pelo contrário. Aplicações como previdência privada e fundos multimercados ganharam fama e continuam a conquistar espaço no mercado, com produtos cada vez mais diversificados. Evidenciam de que nem tudo que é moda tem caráter efêmero, como diz a definição semântica.

Em dezembro de 2000, o patrimônio dos fundos multimercados representava 4,16% de todo o setor de fundos de investimentos. Um ano depois, a aplicação já era responsável por 22,46% dos recursos aplicados no segmento, o que representa um aumento de 439% em 12 meses. Atualmente, os multimercados representam 18,35% do patrimônio líquido total de R$ 805,4 milhões. Parte do crescimento e do desenvolvimento destes produtos deve-se ao aumento do número de gestores independentes e à estabilidade econômica dos últimos anos.

Estratégias variadas e possibilidade de investimento em ativos diversos seduziram muitos investidores que, recentemente aderiram a outra moda: os multimercados com estratégia long/short. Este tipo de aplicação é também chamada de não-direcional, já que não acompanha a evolução de um mercado específico ao buscar ganhos com a movimentação relativa dos preços.

Acompanhamos cerca de 27 fundos long/short. No ano passado, a captação líquida dessa mostra de aplicações somou R$ 1,3 milhão e patrimônio de R$ 3,7 bilhões. É um movimento tão recente que não temos dados anteriores. Neste ano, a captação soma R$ 719 milhões e o patrimônio, R$ 4,7 bilhões disse Marcelo Mazironi, sócio da Hedging Griffo Corretora.

O especialista destacou ainda a onda de saques que dominou o segmento a partir do final de 2004. Até então, os multimercados haviam passado apenas por momentos positivos e, com o aumento da volatilidade, cerca de R$ 3 bilhões da mostra de fundos acompanhada pela Hedging Griffo saíram da aplicação. "Em 2004, os cerca de 66 multimercados que acompanhamos registram ingresso de apenas R$ 470 milhões e patrimônio de R$ 17 bilhões". Mazironi afirma ainda que a participação dos multimercados continuará crescente. "Mas será em uma velocidade menor", afirmou.

Os títulos públicos indexados à inflação, como as NTN-B, também viraram moda nos últimos meses. Prêmios atrativos e incentivo fiscal para estrangeiros que comprassem os papéis elevaram a procura pelos títulos. Atualmente, as NTN-B voltaram a ter preços atrativos, após a realização de lucros do mês de maio. No entanto, segundo um especialista, não há compradores devido à elevada procura anterior.

Em 2000, os papéis preferenciais da Net chegaram a valer R$ 30,18. Na época, investidores de todo o mundo apostavam em massa nas companhias do setor tecnológico, principalmente Internet. No Brasil, a empresa que mais se assemelhava ao modelo da moda era Net, o que provocou uma elevação exagerada dos preços. Para muitos aplicadores e profissionais do mercado, a empresa de TV a cabo seria a transmissora, no País, de toda a tecnologia de ponta que estava para chegar.

No entanto, o período que ficou conhecido como a bolha da Internet estourou. Os atentados de 11 de setembro de 2001 também ajudaram a impor maior pessimismo aos aplicadores. Em 14 de fevereiro de 2003, Net PN chegou à mínima de R$ 0,14. A perda acumulada em relação à máxima foi de exatos 99,53%. Atualmente, os papéis preferenciais da empresa valem cerca de R$ 1,13 e, nos primeiros cinco meses do ano, acumulam alta de 5,6%.

Lucio Graccho, do HSBC Investments, lembra que os fundos diferenciados de ações já foram moda. "Em 2002 e 2003 surgiram muitos fundos focados em dividendos. Anteriormente, as atenções estavam voltadas para os setoriais. Todos esses produtos continuam no mercado, mas sempre há uma empolgação maior por parte dos investidores enquanto o produto é novidade", disse.

Outro tipo de modismo é quando o movimento é baseado em oportunidades de mercado. Foi o que aconteceu em 2002, quando a disputa presidencial provocou forte pessimismo. Na época, o dólar assumiu trajetória ascendente em relação ao real e chegou a quase R$ 4 em outubro. "Este foi um modismo que teve explicação. Estava associado à instabilidade política e perdeu muitos cotistas quando o mercado se acalmou", lembrou Alan Gandelman, da Ágora Senior Corretora.

Evitar alocações excessivas em investimentos, mesmo os que estão na moda, é fundamental. De acordo com especialistas, cada aplicador deve analisar claramente se os recursos investidos estão de acordo com suas expectativas. Nesta hora, risco da aplicação e metas de retorno são características que não podem ficar esquecidas.

Armadilhas que escondem as aplicações da moda

Estar na moda não significa ser um mau negócio. Os produtos ganham visibilidade no mercado quando somam características positivas, como projeção favorável e risco compatível. No entanto, podem ser também uma armadilha para os investidores mais afoitos. De acordo com a consultora Lilian Gallagher, da LMG Consultores Associados, os principais erros cometidos pelos seguidores de modismos do mercado são desconhecimento do produto e perfil inadequado à aplicação. Para evitar problemas, a especialista recomenda:


1 - Buscar informações sobre o produto em questão. O investidor deve ter noção de como a aplicação reagirá diante de cenários positivos e negativos e relacionar estes dados à sua expectativa de retorno. 2 - Conhecer o próprio perfil e sua adequação ao investimento desejado. Cada investidor tem um grau diferente de tolerância ao risco. 3 - Analisar o prazo da aplicação, a liquidez e a volatilidade. A dica é aplicar somente os recursos que são adequados a estas características, evitando saques em momentos inadequados.

ALGUNS MODISMOS DO MERCADO

NET - Em 2000, as ações preferenciais chegaram a valer R$ 30,18. Na época, o mercado americano passava pelo boom das empresas ligadas à tecnologia, principalmente Internet. No Brasil, a companhia que mais se aproximava era a Net. O aumento da demanda provocou uma alta exagerada dos preços. Na mínima desde o início do Plano Real, Net PN chegou a R$ 0,14, em fevereiro de 2003. Neste ano, a alta é de XX%.

BOI GORDO - Em outubro de 2001, a Fazenda Reunidas Boi Gordo entrou com pedido de concordata. A empresa de capital aberto emitia Contratos de Investimentos Coletivos (CICs) e foi o caso mais famoso de investidores insatisfeitos após aplicação em ativos rurais. Com a promessa de ganhos de até 40% ao ano, atraiu cerca de 35 mil credores, entre eles atores e jogadores de futebol, além de pequenos investidores. A falência foi decretada em abril de 2004.

PREVIDÊNCIA PRIVADA - De 2002 ao final de 2004, a participação do patrimônio dos fundos de previdência aumentou mais de 100%. Segundo profissionais, resultado da estabilidade econômica, que permitiu aos investidores buscar aplicações de longo prazo. A tendência é o segmento continuar a crescer, principalmente após a implantação da tabela regressiva do Imposto de Renda.

FUNDOS CAMBIAIS - Tiveram seu auge em 2002, às vésperas da eleição presidencial, quando o dólar chegou a valer cerca de R$ 4. É um típico de exemplo de modismo baseado em oportunidade de mercado. Na época, a tensão política gerou forte procura pela moeda. Ao final de 2002, a classe de fundos representava 1,73% de todo o patrimônio líquido do setor. Hoje, a participação é de 0,21%.

AVESTRUZ MASTER - É mais um caso de investidores lesados após serem atraídos por ganhos acima da média com aplicações em ativos rurais. Boatos sobre as dificuldades financeiras da empresa e uma possível falência surgiram com força no mercado em novembro de 2005. A companhia, sem registro na CVM para distribuição de valores mobiliários, chegou a prometer ganhos de 11% ao mês. O caso ainda está sendo analisado pela Justiça.

FUNDOS MULTIMERCADOS E COM ESTRATÉGIA LONG/SHORT - De dezembro de 2000 até dezembro de 2001, o patrimônio dos multimercados no setor de fundos aumentou 439%. Já os fundos com estratégia long/short surgiram mais tarde e tendem a ganhar cada vez mais espaço. São também chamados de não-direcionais porque buscam ganhos com a movimentação relativa dos preços. A Anbid ainda não tem uma classificação específica para este tipo de fundo.

AÇÕES ESTREANTES - As ações que estréiam na Bovespa, em geral, têm pouca cobertura dos analistas do mercado, mas muita procura por parte dos investidores. Natura ON foi a primeira da série de IPOs bem sucedidos, realizados desde 2004. O histórico recente de lucros acima da média atrai cada vez mais aplicadores e pode ser uma armadilha. Nada garante ao investidor que a maré de sucesso continuará.

04 junho 2006

A conta da natureza

No Estadão de hoje uma reportagem sobre a remuneração do meio-ambiente. Como coordenador de subárea do Enanpad, na área de contabilidade para usuários externos, notei um grande crescimento de artigos nessa área. Eis a reportagem:

A natureza cobra a sua conta

Cresce no mundo um movimento pelo pagamento por serviços ecológicos como incentivo à conservação

Herton Escobar

Quanto vale um hectare de floresta intocada? Normalmente, esse valor seria calculado com base apenas nos produtos que podem ser extraídos e comercializados diretamente, como madeira, frutos e resinas. Mas e quanto à água captada da chuva, o carbono absorvido da atmosfera, o controle de temperatura, a manutenção da biodiversidade e o apelo turístico da paisagem? Esses serviços não deveriam ser contabilizados também?

Se a natureza cobrasse por todos os serviços que presta ao homem, a conta seria gigantesca. Segundo um estudo publicado na revista Nature em 1997, o valor total dos serviços ambientas fornecidos pelos principais biomas do planeta chega a US$ 33 trilhões, incluindo fatores como regulação climática, produção de alimentos e reciclagem de água.

O cálculo já é antigo, mas o assunto está mais quente do que nunca. Cada vez mais, autoridades ambientais, e até mesmo empresariais, defendem o pagamento por serviços ecológicos como uma opção econômica de incentivo à conservação. Dessa forma, o mesmo fazendeiro que derruba a floresta para vender a madeira e fazer uma plantação poderia, em vez disso, receber dinheiro para manter a floresta em pé, em troca dos serviços ecológicos prestados à sociedade.

"Queremos criar a figura do produtor de serviços ambientais", diz a coordenadora do Projeto de Recuperação de Mata Ciliar da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Helena Carrascosa von Glehn. Com cerca de 1 milhão de hectares para serem reflorestados no Estado, a idéia é aplicar a remuneração desses serviços como incentivo à recuperação de matas degradadas, assim como à manutenção daquelas que ainda estão preservadas.

"Quando um produtor polui a água, ele não prejudica só a fazenda dele, mas todos os usuários do rio. Da mesma forma, aquele que preserva suas matas e não polui o rio beneficia toda a sociedade", explica Helena.

Os ecossistemas florestais - em especial, as matas ciliares - são essenciais para a manutenção da qualidade e da quantidade dos recursos hídricos, além de evitar a erosão e o assoreamento dos cursos d'água. A cobertura vegetal absorve e segura a água da chuva, como uma esponja, impedindo que ela corra diretamente para o rios - arrastando terra, areia, lixo e outros sedimentos pelo caminho. Serviços que, segundo os especialistas, valem muito mais para a sociedade do que uma tora de madeira, um pé de alface ou uma vaca no pasto.

"Se reconhecemos isso como algo que deve ser remunerado, oferecemos uma alternativa econômica para o produtor com a conservação", defende Helena.

SERVIÇO OBRIGATÓRIO?

A preservação das matas ciliares é uma obrigação estabelecida em lei pelo Código Florestal. Com relação a áreas já desmatadas, entretanto, a legislação diz que o proprietário da terra não pode impedir a regeneração da vegetação, mas não o obriga a fazer o reflorestamento.

"A lei parte da premissa de que a regeneração natural é sempre possível, mas na prática não é assim", diz Helena. "Em muitos casos o ecossistema foi tão alterado que não tem condições de se recuperar sozinho. Se deixarmos isso intocado, a situação só vai piorar." É nesses casos, segundo ela, que o pagamento por serviços ambientais poderia estimular o reflorestamento.

"É um incentivo para que as pessoas façam mais", diz o especialista Michael Jenkins, diretor executivo da Forest Trends, organização com sede em Washington que trabalha com a valorização comercial de serviços ambientais. "É exatamente isso o que queremos: que o desenvolvimento econômico promova a conservação."

Vários projetos e mercados já estão tomando forma ao redor do mundo. Na França, segundo Jenkins, a empresa de água Perrier-Vitel paga US$ 230 por hectare/ano a fazendeiros das proximidades para que mantenham suas nascentes protegidas com vegetação. No México, o governo federal paga comunidades e proprietários de terras para que preservem suas florestas em áreas de mananciais.

Na Costa Rica, impostos cobrados sobre água e gasolina são revertidos para proprietários de florestas em troca da preservação dos recursos hídricos e do seqüestro de carbono da atmosfera feito pela vegetação. Cada "fornecedor" recebe cerca de US$ 80 por hectare/ano de mata preservada, segundo Carlos Manuel Rodríguez, ex-ministro de Meio Ambiente do país e atual diretor regional para América Central da organização Conservação Internacional.

O valor completo, incluindo serviços de proteção da biodiversidade e manutenção da paisagem para o turismo, segundo ele, pode chegar a US$ 300 por hectare/ano. "Estamos pagando abaixo do valor real, mas isso será ajustado com o tempo", diz. Hoje, a remuneração por água e carbono beneficia 11 mil pessoas, num total de US$ 15 milhões anuais.

MERCADOS LOCAIS

No Brasil, alguns projetos também já estão sendo colocados em prática. Em Itacaré, no sul da Bahia, um grupo de três hotéis paga meio salário mínimo a 20 proprietários de terras do entorno para que mantenham suas áreas de floresta preservadas. Além disso, para receber o dinheiro, os produtores precisam aderir a práticas de produção sustentável, como a agricultura orgânica.

"O interesse é manter a paisagem da região estável e, ao mesmo tempo, criar um vínculo de produção ecológica de hortaliças, frutas e mudas para abastecer os hotéis", diz o agrônomo e diretor do Instituto Floresta Viva, Rui Barbosa Rocha, que apóia a iniciativa.

A mesma lógica serve para o Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar - Proambiente, desenvolvido na Amazônia pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Criado pela sociedade civil em 2000 e incorporado pelo governo em 2003, o projeto premia com um terço de salário mínimo (cerca de R$ 100) famílias que incorporam práticas sustentáveis em sua produção. Por exemplo, a substituição de agrotóxicos e abandono do uso do fogo.

"Isso acaba sendo um serviço ambiental que os agricultores prestam para a sociedade", diz o diretor de Gestão Ambiental e Territorial do MMA, Roberto Vizentin. "As queimadas na Amazônia não prejudicam só a Amazônia, mas todo o País, contribuindo para as mudanças climáticas. Isso já está mais do que provado." Os primeiros pagamentos foram feitos neste ano, em escala piloto, a cerca de mil famílias do Acre, Maranhão e Pará.

O Ibama também estuda a viabilidade de cobrança pelos serviços ambientais prestados por unidades de conservação federais - possibilidade que está prevista no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Um dos casos em estudo é o do Parque Nacional de Brasília, cujas nascentes abastecem a Barragem de Santa Maria, que supre 60% do Plano Piloto de Brasília. Graças ao parque, o custo de produção da água para a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) é muito menor: basta filtrar e colocar cloro, segundo o diretor de Ecossistemas do Ibama, Valmir Ortega.

"Isso só é possível graças aos serviços ambientais prestados pelo parque", diz. "Estamos tentando desenvolver uma metodologia universal que permita fazer essa cobrança em todas as unidades, mas ainda não chegamos a essa equação."

O valor, a princípio, seria equivalente ao que a empresa economiza com o tratamento da água. Mas os cálculos são mais complicados do que parecem.

"Sabemos que uma árvore ajuda a produzir água limpa. Mas quanto?", diz a economista Leslie Lipper, da Fundação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). "Há muita expectativa de que isso será algo muito grande, mas ainda estamos muito no início."